quarta-feira, 1 de março de 2023

Sobre o tempo, a memória e a saudade

Tempo, tempo, tempo-rei. E de boa parte dele restam apenas indícios de histórias vividas, registros em forma de palavras e imagens geradoras de memórias múltiplas. Tempo de viver, tempo de lembrar.

Já por aqui é tempo de limpar e colocar fora tudo aquilo que não faz mais sentido - concreta e simbolicamente. Quem esteve ou está em torno da vida acadêmica sabe que papel parece se reproduzir por conta própria, e com celeridade. São acúmulos de pastas, arquivos, blocos, folhas, agendas, cópias, cadernos, apontamentos, artigos guardados para se ler depois os quais nunca mais foram tocados, sequer lembrados. Então, tudo aquilo que não puder ser reciclado está destinado à fogueira de  Hestia*.

Mas entre aquilo que se descarta e o que se reencontra estão muitas notas pessoais. Uma delas me devolveu a presença imaginária e saudosa de um amigo querido que partiu há cerca de uma década.

Soou estranho ter localizado tais escritos justamente depois de ter chegado do Paraná. Anos atrás fui àquele estado neste mesmo período. Ainda na estrada recebi a notícia da morte de Victor, vitimado em um estúpido e patético acidente de trânsito. Foi um choque e precisei confirmar o que soava como desolador. Victor Folquening partiu num momento feliz e produtivo. Estava fazendo o seu doutorado, era um pesquisador brilhante, decidira casar e pretendia ter um filho.

Temos um tempo de vida com as pessoas. Pode ser curto ou mais longo, mas sempre soará insuficiente no momento em que alguém próximo partir. Trago aqui o registro desta memória marcada, hoje, pela saudade. Naquele momento, era perplexidade e dor da ausência. Foi escrito em abril, reinício do ano letivo.  Ei-lo!

“Volto à Unisinos depois de novembro. É boa a sensação de estar de volta ao ambiente acadêmico, no entanto, é impossível não sentir o Victor por aqui. Parece que em cada canto, em cada corredor, vou entrar e me deparar com ele.

Estou sentada junto às mesas do café da biblioteca. Quantos cafés tomamos aqui!  Quantas teorias entre livros e quantas conversas sobre a vida, os relacionamentos, os trabalhos, filhos e não filhos brotaram espontaneamente, mas com certa urgência. Talvez hoje eu entenda que tal urgência era necessária. O tempo era curto para ele e com ele.

Hoje o tempo está impregnado pela memória da sua presença.  Todos nós sentimos da mesma forma.  Sirvo um café. A última vez que nos vimos foi nesse mesmo lugar e, nesta mesma mesa onde estou, ainda que não intencionalmente. Era o único lugar vago quando cheguei.

Mais um café antes de seguir a minha jornada por aqui. Preciso cumpri-la. A dele foi interrompida e ele faz falta, porque tinha a capacidade de tudo impregnar com intensidade.

Penso que todos que convivíamos com ele estamos repletos de memórias, de ideias, da sua paixão pelo humano e suas facetas. Victor era o mais brilhante entre nós. Curioso e corajoso, não se negava ao mundo nem ao outro e o fazia com uma sensibilidade comovedora. Desafiava e investigava de modo instigante. Faz falta a sua diferença e vivacidade. Era  rara a sua capacidade de transitar e se posicionar diante de temas e sujeitos controversos. E o fazia sem perder o fio da sua racionalidade ágil e lúcida.  

Nem sempre era entendido e aceito por isso, vivia de modo inquieto e urgente Ainda assim, percebo que nos tornamos melhores por conta dele. E precisava registrar isto como se, em algum lugar, ele pudesse ler e precisasse saber o quanto fez diferença ao conviver entre nós. ”

* Hestia – deusa grega do fogo, protetora das cidades, da família e dos lares

** Estou postando , mas o texto é da pró...agora ex-pró (graçadie) Rosana.



quarta-feira, 9 de outubro de 2019


Do passado (da coleção, o que já existiu)

Ela olhou para ele. E teve medo de esquecer e torceu o corpo todo para vê-lo ainda e outra vez - nunca era demais.
Faz tanto tempo e parece ontem. Frase feita, amor desfeito.
A amiga disse ‘quem diria que foi tão intenso?’. Ela pensou e corrigiu internamente, ‘não foi intenso, foi profundo’. Ela tinha perdido a identidade de tanto amor, de tanto cuidado. Ficou sozinha, vagando pela casa vazia. Tudo escuro, a cama uma toca, na sala o cadáver.
O cheiro pelo mundo todo.
Ela tinha velado, velado a fio os anos e nada dele ser enterrado. Velado e nada pode fazer, que não evitar pisar sobre ele, passar ao longo das suas pernas, respeitar as flores mortas que cobriam os seus pés. Ela não podia fazer nada que não esperar que ele simplesmente se desfizesse no ar, comido por todos os desgostos e sonhos moribundos.
E ele morria, mas não respeitava os sete palmos.
-Que nada! Fica tocando a mesma música que ninguém ouve.
Só ela ouvia tudo sem querer, lá no fundo do coração, no fundo onde fica a lama, o poço da água que não se mexe, estava tudo lá: o defunto, a câmara escura, as flores mortas, os pés sujos, o breu, o olhar que não se despede.
E não foi por falta de bater na porta, de levar correspondência para ver se havia algo que podia ser saudade. Aguentou demais, falou de menos, perdeu tudo. A força mingou e o sal do choro tomou conta do sono, da roupa e encharcou o passo. Ensopou o caminho e tardou o fim.
Quem olha de longe vê a lâmina d’água que não esconde sua extensão e chega a cegar a vista, tão longa e reluzente. Da última vez, ela sentou na borda sem força para tocar naquela água, naquele que era o mar da sua tristeza.
O choro ali não era chorado, mas transbordado, extravasado. Nem choro era. Era vertente, nascente ou morrente – um território inóspito de cheiro metálico.
Ela tinha chorado tudo ali e nada morria – vertia, fluía como desespero líquido, angústia corrente. Não morria.
-Acho que a morte não me quer.
Talvez não tenha competência para morrer, nem para deixar que morra.
Cortar, podar, aguar, magoar e seguir.
Destinada a vida, mesmo que doa.
-E como dói.



segunda-feira, 11 de junho de 2018

Partidas

Meu amigo foi embora. E foi uma partida "tão quase de repente" que nos deixou atônitos.
Num curto espaço nos deu muitas lições: a de que a esperança nos sustenta, mesmo que não se concretize o esperado; a de que a gente torce e pede um tempo a mais para aqueles de quem gostamos e desejamos boas coisas; a de que nunca iremos entender alguns descaminhos; a de que o bom humor em algumas pessoas é uma constante até o final; a de que é possível morrer com lucidez; a de que os bons amigos se revelam nas horas difíceis e, por fim, a de que cultivar amigos é uma coisa que ele realmente sabia fazer. Suas histórias estão sendo reunidas num memorial virtual no facebook. É o lugar da memória, da saudade, do choro da saudade, da despedida que não houve, mas, acima de tudo, de dizer o quanto gostamos desse sujeito que nos deixou tão cedo.
A foto é da Fabiana Menine que achou um jeito doce de se despedir do pai.

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quinta-feira, 5 de abril de 2018

Feliz aniversário, Dna Bona!

Faz tempo que não venho aqui. Aliás, faz tempo que nenhuma Divina passa por aqui - estão Cruéis como os tempos atuais! 
Acontece que hoje fui intimada pela patroa: " - Dorô, faz um bolo para a Nívea. E tem que ser um bolo igual a ela! "
Como assim, cara pálida???!!!!  Nem me ouviu e foi cantando a receita...
" Faz um bolo irreverente. 
 Foge das receitas prontas e põe ousadia na massa.  Mistura ingredientes diversos, mas sem perder a consistência. 
Coloca muita cor nessa mistura e assegura que fique doce na medida. Nem mel demais, nem de menos. No ponto! 
Usa ingredientes naturais ( fundamental!) e coloca frutas silvestres, porque ele também tem que ter o sabor  cítrico da natureza selvagem.
Enfeita porque tem que ser bonito. Mas cuidado! Nada de  decoração clássica! 
Movimento, tem que ter movimento!!!
Ah! E uma pitada de cacau, porque tenho certeza de que ela não vive sem um chocolate!!!
Se vira, Dorotéia!!!"

Está aí Dna Bona! Espero que a senhora goste! Feliz aniversário!!!







PS: Nem sei mais usar esse template... estou usando o  espaço da patroa porque não deu tempo de buscar o meu!

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quinta-feira, 19 de outubro de 2017

U2 na minha cozinha

Quem me conhece sabe que a única banda que me faz viajar para ir a um show é o U2. Isso dito, preciso ponderar um pouco sobre estar longe de todo mundo.

Esse ano e pouco que completei morando fora me mostrou algumas coisas das quais eu sinto falta. Não está sendo necessariamente fácil, mas sei que não posso reclamar. Sinto falta da minha família. Normal. Sinto falta de dar aulas. Normal também. Tudo é processo. Eu estava preparada para isso. É tudo sentimento que a gente vai ter que ir lidando e pronto. Mesmo assim, posso dizer que esse último semestre eu tive uma imensa frustração. Pensei que morando por aqui ia ser mais fácil. 

Teoricamente seria. U2 fez show a 5 horas da minha casa. E estava barato. E não foi só o show deles. O The Luminers, banda pela qual começo a desenvolver certo “crush”, abriu o show. E eu não pude ir. Juro que calculei todas as maneiras possíveis de ir. Mas tinha que trabalhar. Não, o pensamento de faltar ao trabalho não estava na lista porque se meu senso de responsabilidade já era alto, aqui fica ainda mais comprometido imersa em uma cultura do compromisso. Pois bem, foi em Boston e New Jersey. Tentei de tudo. Até aventei a possibilidade de avião fretado, mas ainda assim não daria tempo de chegar e ver todo o show além de custar todas as minhas reservas.

Me conformei. Não sem dor. Falei para mim mesma o que falo para filhos e alunos: a  vida é feita de opções. E escolhi ser responsável. É muito difícil eu levar frustração para vida, mas essa ficou marcada.

Pois bem, a saudade não deu trégua também. Graças ao bom pai que criaram toda essa tecnologia e posso pelo menos falar com minha família e amigos com frequência. A frequência é diária com a minha irmã e com o filho.

E como o mundo dá umas voltas que a gente nem imagina minha irmã acabou fechando um trabalho exatamente no show do U2 em São Paulo. Ela não ia trabalhar lá e não ia no show, e de repente ela está trabalhando no show. Comemorei como se fosse comigo. Mas o melhor de tudo foi receber agora, pelo whats um áudio do With or without you, pensando que eles estão lá tocando. E eu aqui, de pijama, no meio da cozinha, ouvindo. Amor explica. Obrigada, ermã!




sexta-feira, 31 de março de 2017



Eu vou ficar

Estou saindo de férias hoje.
As pessoas no trabalho engatam uma pergunta na outra, automaticamente: Tá saindo de férias? Vai viajar? Pra onde?
Não, gente, não vou viajar. Vou no máximo dar uma fugida aqui por Minas mesmo, num fim de semana. Não, não tenho dinheiro. E recebo olhares que variam de assustados a penalizados.

Olha, eu sei o quanto é legal viajar, conhecer lugares novos, tipo Europa e coisa e tal. Mas eu não vou morrer por isso. Sei que não são as primeiras férias que passo sem grana e provavelmente não serão as últimas. Mas eu vou ter uma coisa deliciosa: tempo. Tempo pra cuidar de mim, da minha casa, dos meus bichos. Tempo pra ficar sozinha e pra ficar com os amigos. Tempo pra ficar em paz. Tempo pra ficar.




domingo, 26 de março de 2017

À minha frente, gerúndio

Está bem difícil de manter a concentração nesses últimos... ãh... meses? Sim, meses. Não perdi o jeito de estar em movimento sempre, de ir-indo, continuar-ando, ocupar-me, fazer-endo, sempre no gerúndio. Mas é bem clara a minha falta de foco. Como ter foco se nem sei quem sou mais?

Não, isso não é uma crise. Não, não estou chorando e nem vou cortar o pulsos. Parece que toda vez que dizemos que não sabemos quem somos o mundo vai ruir ao nosso redor e todo mundo corre para acudir. Como assim você não sabe mais quem é????

É só se perdendo assim que a gente percebe o quanto os vínculos formais são importantes nessa nossa sociedade. Toda santa vez que tenho que preencher qualquer coisa como pesquisadora me pedem a instituição da qual faço parte. Num faço parte e faço parte ao mesmo tempo. Eu não tenho uma instituição para chamar de minha agora, mas ao mesmo tempo posso emprestar vínculos aqui e ali, o que na verdade não seriam vínculos. Sinto que minto. Mas o formulário não abre espaço para eu explicar essas coisas. Várias instâncias não abrem espaço para a gente explicar a complexidade que é só ser.

O currículo na internet não deixa a gente colocar lá: “fazendo outras coisas que não possuem ligação com a profissão mas me transformam numa pessoa melhor”.

Ao mesmo tempo ando tão ocupada. Tão descobrindo vários mundos. É como se estivesse em frente à uma encruzilhada e houvesse vários caminhos me chamando, todos tão sedutores. E é ruim saber que entrar em uma das estradas significa dizer não para as outras. Todas são lindas! Acho que nos últimos meses peguei um banquinho e sentei na encruzilhada. Flerto com todas as estradas. Aceno. Sorrio. Converso com quem passa, mas não sigo. Fico ali.

E saindo dessa metáfora me encontro, na realidade, frente a diversos mundos. Meus livros finalmente chegaram. Que difícil terminar de revisar esse texto no computador porque agora eles estão todos à minha frente, sussurando como várias sereias sedutoras: me leia... Tenha ideias comigo... Folheie minhas páginas...  
Meu cantinho quase todo arrumado, com as sereias cantando...


Um amigo me perguntou ontem se estou feliz. Bah, que difícil responder. Mas afinal a que padrão de felicidade ele se refere?

 Estou onde escolhi estar. Descobrindo quem somos nós todas. Todas as eus aqui dentro. Ele foi colo: "sei como é. Aproveite, é um momento único".

Não ter certeza faz um bem danado, ao mesmo tempo desencaixa a gente do mundo ali fora e nos convida a diversos outros mundos criados ou construídos na imaginação. E aí a gente vai continuando nesse gerúndio, porque parar é pra quem está morto. Não é?




quinta-feira, 23 de março de 2017

Sobre quem grita e quem é surdo

Sempre ouvi amigos que moram próximo a igrejas reclamarem: é uma cantoria sem fim, uma gritaria, um horror!
Eu me mudei há cerca de um ano pra um prédio que fica quase em frente a uma pequena igreja evangélica. Pensei do alto do meu convencimento de pessoa desencanada e tolerante: não tem problema. Eu respeito todas as religiões e coisa e tal...
A igrejinha abre três vezes na semana. E sempre terminam seus cultos antes das 22 horas. Lá de casa escuto músicas lindas, algumas que até me lembram meus tempos de frequentadora da igreja católica na adolescência. Fico lá de casa cantando. Às vezes aproveito pra fazer uma oração.
Mas ontem minha tolerância foi colocada à prova. Foram mais de 30 minutos de gritaria. Gritaria mesmo: “Meu pai! Meu Senhor! Senhor Nosso Deus! Vem meu Deus! Escuta seus filhos!” E mais um monte de outras frases que eu não consegui identificar. Acabou-se minha compreensão e meu respeito.

Gente do céu, eu quase fui pra janela perguntar: Deus é surdo? Porque se for eu tô falando na altura errada com ele há mais de 30 anos...


quarta-feira, 15 de março de 2017

Como lidar com haters: lições de abroad

Eu não sei se é a frieza e racionalidade americanas que ajudam, mas tenho percebido que a galera aqui lida muito bem com os haters das redes sociais.

Há tempos que venho tentando diligentemente evitar as caixas de comentários de determinados jornais brasileiros, porque elas mostram exatamente o reflexo do congresso nacional (em minúscula, sim, porque dá para protestar com gramática) no povo. Ou o povo que elege esse congresso do século passado. Semana de luta do dia da mulher, muitas ações no mundo todo e o que se ouve da presidência atual é que mulher é determinante para os lares e para a economia: quando controla o preço das coisas no mercado. Não é só decepcionante. É afrontante.

E aí qualquer postagem em rede social vira uma super disputa.

Exatamente porque eu estava pesquisando a Women´s March que aconteceu aqui nos Estados Unidos um dia depois da posse do outro misógino, eu resolvi dar uma geral em postagens que falavam sobre o dia da mulher.

No mundo todo, quem pode, fez greve para mostrar onde estamos inseridas. Em uma dessas postagens sobre a greve, um idiota comenta numa página no Brasil: “espero que elas tenha deixado o almoço pronto antes de ir para o protesto”. Qualquer mulher teria o sangue fervendo com um comentário desses, mas o que é determinante, é como você age em relação a isso. Mantendo meu padrão masoquista, segui as respostas que a mulherada deu para esse comentário: “puxa, não sabia que você não sabia cozinhar”; “cara que pena, deixaram o almoço pronto e ainda assim tiveram tempo para sair. E você, que não consegue coordenar uma louça na pia?”... E o festival de respostas para  o moço foi longe. Eu balancei a cabeça.

Durante a disciplina que fiz sobre escrita aqui em uma faculdade local, discutimos muito os discursos de ódio nas redes sociais e fora delas. E uma das sacadas masters que eu tive durante aquele debate é que nosso comportamento para combater preconceitos e ódios em geral, deve ser exatamente o oposto quando se trata de mundo concreto e mundo virtual (sei que o conceito precisa ser melhorado, mas vamos seguindo pelo senso comum).

No mundo concreto a gente precisa peitar. Sempre com comunicação não violenta, com comportamento civilizado sempre que der, mas peitar. Levantar a voz e dizer claramente: “não gostei dessa sua piada. Ela é agressiva com as mulheres loiras. Tenho muitas na minha família. Se me der licença me retiro, prefiro não ouvi-las.” Ou ainda: “não entendi porque você diz que sua mulher não é capacitada para levar o carro para a oficina. Porque ela não seria? Ela tem algum tipo de necessidade especial?”, ou ainda, “Tio, por favor, eu quero ouvir a opinião da tia sobre isso. A sua eu já sei. Obrigada”. Eu sei. É difícil. Mas é um jeito bem interessante de barrar certos ódios naturalizados e mostrar que não, isso não é normal.

Já nas redes sociais a gente precisa matar o hater pela inanição. Sim! Um hater é alimentado nas redes sociais por publicidade. Quanto mais gente dá atenção ao infeliz, mais publicidade ele tem. Se alguém se digna a ofender as pessoas atrás de um computador, é porque essa pessoa realmente precisa de algum tipo de proteção, mas mais ainda, precisa de atenção. E a gente é muito trouxa quando os responde. O que aconteceria com o moço do “almoço” se ninguém o respondesse? Se ninguém tomasse conhecimento que ele foi lá fazer aquele comentário? Será que ele não iria juntar suas trouxas e se retirar?

Tenho notado esse comportamento por aqui. Desenvolvi uma pesquisa sobre a comunicação da Women´s March no nível nacional e local. Queria comparar que tipo de forças juntaram tantas mulheres em tão pouco espaço de tempo. Queria saber como a comunicação foi coordenada para manter tudo mundo na mesma página. E, claro, precisei ler muitas postagens.

A minha percepção é enviesada e talvez não seja um exemplar do que é o todo, mas notei que os haters, quando aparecem, não são respondidos. Há questionamentos sérios em relação à conduta política das líderes da marcha, interessantes contrapontos, mas esses comentários idiotas, só para causar mesmo, não são respondidos em massa. Uma ou outra pessoa diz algo, mas não há um debate infantil do tipo: “é, não é, é, não é”. Pessoal simplesmente não responde. E daí a pessoa some. Porque não tem eco.

Ontem eu estava publicando em um grupo de ajudas, vendas e trocas locais, li alguns posts e notei de novo. Um deles era de uma senhora procurando um encanador, explicando que são alguns vazamentos na casa dela, mas menores, que os encanadores em geral negam esse tipo de serviço pequeno e que ela gostaria de saber quem poderia fazer o conserto. Na postagem muita gente foi dando indicações do marido, do vizinho (a comunidade é pequena aqui), de um encanador gente boa, etc. E teve um infeliz que respondeu: “você”. Cara, minha alma latina com sangue de Áries me chacoalhou inteira. Que tipo de gente estúpida o suficiente, lê um post de alguém PEDINDO AJUDA e diz: resolva você mesmo. Sério. É de cair o queixo. Minha vontade era dar um hadouken na pessoa pra ver se ela acorda. Imagina só: eu, que não tinha nada a ver com o post, estava naquele nervo. Perdendo energia porque um idiota resolveu ser idiota. E as pessoas do post? Solenemente ignorando o infeliz. Simples. Ninguém respondeu, nem a dona do post. Nada. Nem um curtir. Nem nada de nada. Simples. Foram direto para a solução do problema e pronto.

Eu sei que para nós, latinos, é complicado deixar barato. Entendi isso pela minha reação. Mas por outro lado aprendi uma gigantesca lição: não se recompensa mau comportamento com atenção nas redes sociais. É uma boa saída para matar o ódio sufocado mesmo. Ele definha, encolhe sem o auê, sem a atenção geral.
Eu prometi, então, tentar como uma galera tem tentado firmemente: não ceder às tretas.

Começo na próxima segunda-feira.


sexta-feira, 3 de março de 2017

Desabafo: que lugar mais parado no tempo é esse da escola...

Desculpa, mas esse texto vai ser escrito com um pouco de raiva. Ou um monte dela.

Há tempos estamos vendo vídeos de consultores famosos, de motivadores, de professores de universidades como Harvard apontando sobre o quanto a escola anda atrasada no seu modelo de funcionar frente a todas as outras instituições. Livros já foram escritos sobre isso.

Cansei, quando trabalhava na universidade, de participar das mesmas monótonas semanas pedagógicas (para professores!) com apresentações sofríveis feitas no power point, que duravam mais de 3 horas e eram a coisa mais sonífera da face da terra. A ironia estava no assunto dessas apresentações: como deixar nossas aulas mais dinâmicas. Eu ria. E chorava, também, com a desgraceira que é esse nosso jeito de renovar as coisas. Ou de manter tudo como está.

Na escola, ainda mais, a gente carrega o que conhece e o que domina como nossos "feudos" e quando vem alguém propor algo diferente, os primeiros a resistirem são exatamente os professores.

Aliás, eu preciso registrar aqui que uma rara exceção dessas semanas pedagógicas eternas teve a intervenção de uma professora que dividiu os outros professores em grupos e aplicou as dinâmicas sugeridas para a sala de aula. Isso deve ter sido há uns bons 12 anos e eu ainda me lembro tanto dela, quanto da dinâmica, quanto até do lugar onde eu estava sentada naquela sala.

É simples e está mais do que provado pela ciência: quando temos prazer na atividade, a gente aprende mais rápido!! Por que a escola insiste em apontar que aquilo que é maçante, sonolento, formal e quadrado ainda é o melhor para os alunos?

Minha revolta vem do recebimento dos pareceres de dois livros didáticos que escrevi. O primeiro livro teve essas críticas enviadas há uns três meses e o segundo, que acabei de receber, as mesmas críticas: muito coloquial.  Não sei quem são os pareceristas, mas gente mesmo da área, imagino, porque a editora não buscaria qualquer um.

Quando expressei, no livro, críticas que faço em sala de aula à nossa profissão, os pareceristas subiram nas tamancas. Como assim criticar os colegas?

O texto que fiz absolutamente dialógico, brincalhão e solto, mas com o conteúdo necessário, foi criticado como "muito informal, o que pode comprometer a credibilidade do material"...

Sério mesmo? Sério mesmo que não é possível tornar o conteúdo mais leve, divertido, trazer os vocábulos do alunado para a publicação? Sério mesmo que a gente vai fazer dormir aquele aluno que trabalha o dia inteiro e estuda de noite, se esforçando ao máximo para prestar atenção? Sério mesmo que ainda vamos nos manter nesse pedestal de salameleques da academia que traz uma afetação desnecessária?

Olha, não tenho dúvidas que, dessa maneira, a escola continuará a ser o lugar mais atrasado da nossa sociedade. Sabe o quê? Estou vendo até a igreja católica, como instituição, passando na frente da escola no quesito modernidade. Com esse papa Francisco e suas ideias? Não duvido nada!

Vai vendo...


O Banho da Dorotéia

Chegando agora por aqui. Ontem, a quarta de cinzas foi tão morrinhenta que o olho abria e tornava a fechar!  Patroas em retiro e eu - não sou santa nem nada- me joguei em  Ilhabela para o " Banho da Dorotéia"!
Pensem! Tem algo mais genuíno, mais parecido comigo? Um povaréu de deus pai - porque sim, tanta gente junto querendo tirar a nhaca do ano passado (que ainda não acabou) tem que ser abençoada! Povo fica unido nessas horas e dá gosto rolar no meio!
E eles, meninas?!!! Cada gato mais lindo do que o outro, tanta coxa de fora (de todos os naipes e tamanhos), tanto par de olho caliente...humm...sim! Desse tipo mesmo que você está aí pensando! Foi tanto pega, larga, empurra, puxa, mão aqui, mão ali, boca lá e vamos para o banho! Ai meus sais!!! Quem resiste ao convite " Dona Dorotéia vamos furar aquela onda?"  Assim não tem kráca que  não  desgrude!!! 
Agora vou dar uma passadinha na Praia da Fome (fiquei com fome de quê?) com a Lola que fez a foto aí e ir de volta, né? E vou torcendo para que as patroas tenham voltado zen!!!



quarta-feira, 1 de março de 2017

Um outro Carnaval


Há 3 anos no dia 1 de março alguém me dizia: "seu destino hoje é meu". 
Começava ali um amor de carnaval que iria me tirar do prumo. Iria me trazer alegrias e claro, como todo carnaval, teria seu triste fim. Me ensinaria, entre outras coisas, que a gente nunca deve ficar ao lado de quem não nos assume....de quem não tem orgulho da gente. Nem um dia! 
Vieram outras histórias, outros carnavais. E eu me tornei uma mulher melhor. Mais confiante.E se é pra ficar comigo, pegue na minha mão e desfile comigo pela avenida. Por um carnaval ou pela vida. Pra todo mundo ver.

Marina Victal (Nina Rosa) 


terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Quatro dias sem folia

Há um tempo em que se quer esquecer, justamente, do tempo. Nem nostalgia, nem rejeição à grande e, potencialmente, revolucionária festa que é o carnaval. Apenas o desejo de parar e descansar. E, ao contrário da grande massa gaúcha e argentina (nesse ano) que rumam, céleres, ao litoral gaúcho e/ou catarinenses,  tomei a direção oposta. Como prêmio ganhei uma ensolarada manhã numa estrada quase vazia. 
Quatro dias sem pensar em coisas a fazer, em horários a cumprir, sem agito, sem fantasia, sem axé, sem samba no pé.  Muito zen? Muita preguiça? Alienação? Nada disso. Tempo de conversar, de mergulhar em águas tranquilas, de tomar sol limpando a piscina, de ler aquele livro que ficou iniciado na cabeceira da cama meses a fio, de desligar as redes sociais, de esquecer o noticiário na TV, de ouvir a rádio local com os recados entre ouvintes, de dormir sem horário para acordar.
E para não dizer que fiquei alheia ao grande movimento, a banda baiana me representou!









segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Vamos falar da Susan

Ó, nem sinal do carnaval por aqui. Nem Mardi Grass. Nem Veneza com ou sem máscara. Nada. Nadinha de nada. Um pouco de neve derretendo lá fora. Para vir mais. Só.

E assim, não estou sentindo falta, não. Dia normal, sabe? Quase normal, porque depois que vim para cá, rotina é o que menos tenho.

Eu tinha que fazer pesquisa e tals hoje, escrever em inglês, mas como toda boa procrastinadora, estou aqui, indo e vindo em um artigo científico. Daí, pra procrastinar mais, resolvi falar da Susan.

Faz tempo que quero falar dela. Na verdade, porque queria saber cargas d´água o que a coitada fez – ou deixou de fazer – para ser lembrada para todo o sempre assim.

É tipo o Zezé da cabeleira. Ou ainda a Amélia-mulher-de-verdade. Nunca serão esquecidos. E pior, ficarão ali, grudadinhos com o uso do seu nome. Em vão. Em qualquer vão.

Por falar em vão, a coitada da Susan aqui tem seu nome ligado a um. Na verdade, não é um vão, mas é uma coisa que usamos nesse vão.

Eu realmente fiquei chocada quando me falaram a primeira vez. Fiquei pensando: porra, coitada da Susan, meu.

Imaginei também, como deveria ser o nome da mãe da Susan. Ou do pai. Estes sempre vão ter o direito ao esquecimento. Mas a Susan, pobrezinha, ficará a vida toda sendo chamada na cozinha. Não tem espírito que descanse desse jeito!!

A primeira vez que me falaram dela eu gaguejava tentando saber os nomes das coisas da cozinha. Bah, que dificuldade. Se nem me português eu sabia ao certo (a gente chama tudo de coisa diferente em cada região do país, oras...), imagina em outra língua. Mas esse nome até o marido conhecia. Até ele que vive boiando para me dizer os nomes da escumadeira, da colher de pau, do “strainer”...

Então a cozinha tem aquele ângulo no armário embaixo do counter (balcão). Aquele canto que fica cheio de espaço e que dava para pôr um montão de coisas ali, mas ia ficar difícil de alcançar porque é fundo, lá atrás mesmo. Aí o ser humano inventou uma roda/prateleira que pode ser chamada poeticamente em português de “Canto Mágico”. Lindo, né? São aquelas ferragens que saem do armário e facilitam a vida da arrumação de mantimentos dentro dos armários.

Pois é. Sabe como isso se chama em inglês? Lazy Susan. Foda, né? Imagina, chamar a Susan de preguiçosa só porque ela inventou a ferragem para arrumar as coisas no armário. Fico de cara com isso.

Toda vez que preciso me referir ao canto para o marido eu digo: põe lá na coitada da Susan.
Porque, né? Bah.

Diz para mim: não tem nexo, né?

A Susan inventa uma coisa assim e fica mal-falada por resto da vida...






segunda-feira, 9 de janeiro de 2017

A eterna tentativa de esconder que fedemos levada agora a outro patamar

Acontece em toda a relação. Enquanto estão no início do relacionamento, se apaixonando, existe aquele jogo de se arrumar, maquiar, de vestir assim ou assado, para agradar. Só agradar. A gente constrói um ser que não é a gente para não ser rejeitado. Normal. Teorias da psicologia até devem explicar isso, da idealização e tals. E pode ser relação hetero ou gay, não importa. Tenho amigos gays que morrem de vergonha do parceiro quando se trata de cagar.

Por isso, talvez, tantos relacionamentos depois de um certo tempo caem como se apodrecessem no pé... Porque tem gente que consegue segurar os papeis por mais tempo, outros são péssimos atores. Quantas pessoas são uns amores até conseguir a primeira garantia de estabilidade, tipo uma aliança ou algo similar? Depois mostram a que vieram.
Muito por condicionamento social/cultural, muito por essa idealização idiota, a gente acaba tentando esconder a todo custo que cagamos. Principalmente as mulheres. Mulheres devem cheirar a rosas... Devem brilhar, flutuar, ser delicada, princesa, bla bla bla... Diga pra mim se isso nunca aconteceu com você. Nos primeiros meses nada de cagar na casa do namorado. Deus me livre! Imagine se ele descobre que meu cocô fede!

Durante muito tempo eu fui essa pessoa. Tinha um problema imenso de cagar fora da minha casa. Intestino preso revelava bem essa prisão conceitual. Era muito raro quando ele funcionava, e se funcionasse no lugar errado, era intencionalmente travado por mais um tempo. Até que isso começou a me fazer mal. E junto com algumas características que eu já odiava em mim, joguei fora todo e qualquer pudor em relação ao Número 2. Eu ainda tenho problemas em cagar em lugares pequenos, que sei que pode atrapalhar outras pessoas desconhecidas. Mas se o banheiro é público, tem um monte de opções de assentos para outras pessoas, eu não tenho mais problemas. Foda-se. Cocô fede mesmo. E daí?

As relações evoluíram nesse nível também. Eu morria de inveja da liberdade poética e retórica do meu irmão que sempre anunciava que iria destruir o banheiro, que se alguém quisesse usar antes, deveria. Depois ele saía ainda descrevendo sua produção. Tem muito de machismo isso? Mas sem dúvida. Homens podem ser escatológicos, falar de cocô ou outras coisas nojetas (ui, me lembrei do banheiro de Trainspponting). Chega a um ponto a liberdade deles que estávamos uma vez em um avião indo dos Estados Unidos para o Brasil, e meu irmão acostumado a falar português durante 15 dias sem ninguém entender lhufas, veio até o meu assento no avião e falou em alto e bom som: “vou ali soltar um barro e depois venho ver o filme com você”. Eu queria morrer. Eu queria a capa da invisibilidade do Harry Potter. Eu queria que um buraco se abrisse no avião e eu saísse direto para o oceano atlântico. Mas o máximo que fiz foi me abaixar e colocar os fones de ouvido, sem olhar para o lado.

Houve também uma vez, em um avião da Aerolíneas Argentinas que alguém fez uma obra tão excepcionalmente fedida que os tripulantes precisaram caminhar com um spray pelo avião todo. E foi avisado no autofalante que haviam gases tóxicos vindos do banheiro e por isso precisariam usar o spray no avião todo. Eu só fiquei imaginando como a pessoa autora ficou se sentindo.

É engraçado como a gente acusa todo mundo pela produção do seu intestino. Como se a gente conseguisse controlar os fedores intestinais. Como se não fosse natural cagar fedido e peidar fedido. Como se todo mundo não soubesse que cocô deve ser feito diariamente para uma pessoa ser saudável e que esse cocô fede.

Falando em cagar, eu ainda visualizo a cara do meu pai dizendo: não fale assim! Diga “fazer cocô”! Oras, que diferença faz? Ah, sim, sou menina...

Bem, me libertei. Resolvi seguir meu irmão e falar as coisas do jeito que são. A liberdade que a gente sente quando o relacionamento vai para esse nível de intimidade, é indescritível. Hoje eu tenho condições de dizer aqui em casa: “acho bom você ir escovar os dentes antes porque preciso fazer o número 2”. Aí saio do banheiro e digo: “não está tão ruim hoje” ou “viixe, vai demorar um tempo para se esvair o cheiro, melhor ficar longe...” A vida fica leve. O respeito ao outro fica claro sem tornar as coisas artificiais. Nesse processo, poder dizer que a pessoa está com bafo, ou com uma alface no dente ou um tatu no nariz, sem que isso vire um auê é absolutamente libertador. As coisas ficam naturais. E o relacionamento mais inteiro, mais tranquilo.

Claro que há limites para isso. Eu tinha uma amiga que sentava no colo do namorado enquanto ele cagava. Aí eu acho too much. Num dá, né? A pessoa tem que ter a privacidade para produzir seus cheiros horrendos sozinha. E a outra precisa se dar ao respeito de não querer cheirar essas fedentinas, não é?


Pois bem, mas afinal, o que me trouxe aqui para falar de todas essas coisa nojentas é que descobri há algum tempo que teve gente que levou essa “brincadeira” para o outro extremo mesmo. No início eu achei que era piada. Não é. O produto está à venda, e tem concorrentes! A propaganda é ótima. A marca possui engajamento social quando defende saneamento básico. Enfim a estratégia e fenomenal. Está em inglês, mas mesmo para quem não entende muito o britânico, como eu, o vídeo se auto-explica. Perceba o cenário, as situações e se veja nelas. Que tal? Agora, nós mulheres, princesas que flutuam e não possuem pelos nem cagam podemos realmente manter o personagem... Só precisamos carregar uma mochila em todo lugar que formos. Porque vamos precisar de maquiagem, lencinho umedecido, de desodorante e, agora, do spray-evitador-de-cheiro-de-cocô. Pois é.



Poopourri - uma brincadeira com a palavra Poop = cocô e Pot Pourri, que é um sachê de cheiros bons misturados.




V.I.Poo = também um acrônimo de Very Important Person e Poop= cocô.



domingo, 17 de julho de 2016

Sobre mães, meninos e partidas

A cena se repete pela segunda vez. Os três "mosqueteiros" novamente se uniram na dor de cada um para levar o féretro até a morada final. Silenciosos, solidários, unos.
Eram meninos quando se reconheceram e tornaram inseparáveis. Tinham seis ou sete anos. Foram heróis, bandidos, aventureiros, cientistas, desenhistas, costureiros, cozinheiros, criadores de hámsters, de cães, recolheram filhotes de gatos abandonados nas ruas e os trouxeram para casa, temeram fantasmas, odiaram a escola, jogaram rpg, acamparam, enfrentaram as turbulências da adolescência - ora juntos, ora cada um por si -,  tomaram diferentes rumos profissionais, trocaram de cidades, tiveram namoradas, outros amigos que ficaram, outros que passaram. Mas entre eles, a cada reencontro, o tempo pára. Nestes momentos, para mim, é como voltar atrás, celeremente, e vê-los como meninos aos 30 anos. Meninos que precisam enterrar suas mães. Meninos com o afeto ceifado pela lógica cruel do viver e ver morrer os que lhes são caros. Meninos atordoados pela perda nunca esperada, embora sabida.
De repente, uma cena se desenrola, aleatória, em minha mente. Os vejo homens adultos, já maduros, mais uma vez carregando uma mãe para a sua morada final. Duas já foram. A próxima, será a minha vez.



sexta-feira, 20 de maio de 2016

Mas ele precisa.

Chuva e frio em Curitiba. Nada de novo numa cidade que tem o apelido de Chuvitiba.

Mas antes de chover, eu e Pandora fomos fazer a nossa caminhada rotineira. Aproveitamos para ir conhecer uma nova creche para cães aqui perto de casa. A gente já tem o relacionamento com uma aqui, mas uma vizinha falou tão bem que fomos dar uma olhada.

Adendo sobre creche para cães: aqui, nessa família não é uma gourmetização da guarda dos pets, é um jeito de mostrar para ela, sem risco aos outros, que ela não é unica, que precisa se socializar e assim acaba ficando uma cã mais calma e ciente do seu tamanho. Ela também precisa correr. E no espaço do prédio não é permitido. Na praça, se ela correr para rua, é atropelamento na certa. Enfim, até para os cães está complicado de se socializar na cidade... Por isso, a creche, uma vez por semana.

Pois bem, o espaço realmente é muito legal. Os cães ficam todos juntos. Tinha de golden a york, tudo tranquilo, brincando mesmo. Meio coisa de matilha: fica todo mundo indo de um lado para outro. Pandora ficou excitadíssima. Cheirou tudo, não sabia se ficava ou se ia embora tamanha a felicidade.
E fui conversando com a menina sobre os cercados que ela me mostrou, sobre o banho, sobre os dois monitores o tempo todo cuidando deles (pegando no colo, o que não acho adequado...).

O lugar é realmente uma fofice.

Aí ela foi me contando de cada hóspede. Desde esses pequeninos yorks, o border collie, a shitzu amigável, até um paulistinha branco com manchas marrons, muito fofo. Ele não se destacava na matilha. Ia e vinha com os movimentos do grupo, corria e brincava como todos os outros.
Ela me disse que esse paulistinha – que esqueci o nome – é muito hiperativo. Não para de jeito nenhum. Ele roeu, na última semana, todos os cabos de eletrônicos da casa. E que ele fica na creche umas três vezes por semana ainda. É castrado. Disse também, que a dona em concordância com a veterinária, está pensando em tratá-lo com fluoxetina.

Oi?

Minha reação foi involuntária. Foda quando isso acontece. Eu arregalei os olhos e disparei:

- Mas Santo Deus! Fluoxetina para o cão que quer atenção, brincar? Porque não pensam em adestrar?
Já tinha saído. Sim, me arependi porque eu não tinha nada a ver com aquilo.

A menina responde meio assustada com a minha reação, mas sem grandes compromissos:
- Ah, eles não têm tempo, né?

Meu, que bosta de sociedade estamos construindo na qual alguém adota um cão, não tem tempo para cuidar, daí resolve medicalizar porque o cão não está nos padrões de comportamento “lap-dog”?  Já há uma imensa discussão sobre a medicalização da educação em crianças e agora sobra pros caninos também?

Tristeza.

Eu sei, eu sei que estou julgando sem conhecer a situação, sem ser veterinária, sem saber ao certo do que o paulistinha é capaz. Mas o que a gente tem visto de dotô por aí socando remédio em todo mundo, não está escrito. E a culpa não é deles, não, bem sei. É de uma sociedade que precisa enquadrar tudo em um determinado padrão. A gente achou que tinha superado isso. Pelo jeito não. Criança precisa se comportar. Cão precisa se comportar. Idoso precisar se comportar. Só o adulto pode continuar fazendo besteira...


Nessas horas eu lembro dos pinguins de Madagascar: sorria e acene.


Não há indicação de autoria. Reportar informação.



sábado, 13 de fevereiro de 2016

As meias precisam ser brancas





Eu sou de uma geração que está espremida entre duas outras que tratam as “coisas de casa” de uma maneira muito diferente. E, sim, isso me causa crises de identidade de vez em quando.

Minha mãe veio da geração de mulheres que fez o curso de Educação Familiar. O curso, a nível técnico, ensinava como administrar uma casa. Segundo ela, tinha aulas de corte e costura, culinária e orçamento doméstico. Foi com ela que aprendi a arrumar a cama de maneira compulsiva, a ponto de não conseguir ficar uma hora sequer com ela desarrumada pela manhã. E foi com as milhares de vezes que ela desarrumou a cama porque o “lençol estava com a costura do avesso”, que adquiri a obsessão de fazer a dobra dos lençóis sempre do lado certo. Não a culpo, de forma alguma. Até porque foi minha decisão manter esses padrões de arrumação. Essa, depois de muita terapia, sou eu mesma e gosto dessa organização.

Já minha irmã reagiu de outro jeito. Ela nunca arruma a cama. E é feliz assim.

Bem, mesmo tendo feito a tal da Educação Familiar e propalá-la nas filhas (mulheres, claro), minha mãe sempre trabalhou fora. A mãe dela, minha avó, sempre trabalhou fora. Isso fez com que tivéssemos a referência de mulheres que sabiam fazer todas as coisas de casa, mas que não se dedicavam somente à casa (ah... a jornada dupla...). A casa não era o centro da vida dela, mas é impressionante o quanto de cobrança ainda havia na minha mãe em relação à vestimenta de todo mundo, em relação a tudo estar em ordem, em relação às manchas das roupas serem tiradas, em relação aos panos de prato que deveriam ser brancos, em relação às meias que não podiam estar encardidas.

A gente tinha ainda a Mena que nos cuidava e cuidava da casa. E a Mena fez curso para passar roupa. Passa roupa como ninguém. Nunca vi alguém melhor do que ela. Mas tudo isso era para garantir as camisas do meu pai, que deveriam ser perfeitas.

Pois bem, casei, mais de uma vez, e na minha casa eu não tinha mais a mãe gritando que as coisas tinham que ser assim ou assado. Poderia fazer tudo do jeito que eu queria. Foda-se o que os outros iriam dizer. 

E me encontrei com amigas que fizeram questão de quebrar com essa perfeição no lar. Panos de prato limpos, mas cheio de manchas. Roupas nem tão bem passadas, quando eram. E ninguém morria.

Hoje estou casada com um americano que nunca precisou passar roupa, ou nunca entendeu que isso era importante. Que nunca teve mulheres na família lavando os tênis ou tirando manchas.

Eduquei o meu filho para passar a roupa dele, se ele quisesse, e lavar os tênis quando assim achasse necessário. Ele que descubra os códigos sociais do ambiente onde ele está e os cumpra. Se quiser.

Mas nesse carnaval fomos os três para as montanhas. Chegamos em casa com lama até nos cílios. As roupas foram para a máquina de lavar. Direto. Os tênis, bem, deixei de molho e fiz cada um lavar os seus. No mesmo dia. E as meias, eu lavei. Esfreguei. Usei o sabão caseiro que a irmã da minha vizinha fez. E deixei corando. E esfreguei de novo. E coloquei na máquina para lavar.

Porque, as meias precisam ser brancas.  


E porque história social é como craca. Você passa a vida tentando lavá-la de você.


sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

A Pergunta

Entendo que devemos deixar um legado. Vc está vivendo o que seria o adequado na história da sua vida?

Eu disse pra ele fazer uma pergunta. Pensei que vinha alguma coisa tipo: Você gosta de acarajé? E ele mandou a pergunta que precisa de um livro para a resposta. Ou de uma palavra – como ele gosta: "Não".  No meio, uma vida.
Você não sabe, mas eu já respondi essa pergunta várias vezes. 
O sonho da minha vida era casar, ter três filhos lindos e maravilhosos e ser feliz até a morte passando pela velhice e pela doença.  Mas esqueci de combinar com os russos.  Até hoje não sei se mudei eu ou o sonho.  Mas aquela mulher com três filhos e provavelmente alguns netos, não seria nada adequada à história da minha vida, a começar pela separação no tempo em que “desquitada” era puta.  E tratada como tal. 
Fiquei uns 30 anos sem ver meu primeiro marido. No dia em que iríamos nos reencontrar em Porto Alegre, no avião me dei conta da pergunta que ele faria: O que você fez nesses trinta anos?  Peguei a velha caneta, o bloquinho de papel e escrevi: “Vivi na Bahia. Trabalhei muito, conheci gente bem interessante e muitas horríveis. Viajei bastante, mas menos do que eu gostaria. Tive mais um marido e não tive filhos”.
(às vezes saber ser concisa ajuda muito).
Continuando a resposta... Não sei se seria o “adequado à minha vida”, mas gostaria de colocar uma mochila leve nas costas e ir.  Sem pressa. Como observadora. E absorvadora... – aquela que absorve (argh).
Gosto da sua tranquilidade quando você fala de conclusão. De impermanência. Da morte.  Mas não gosto da palavra legado. 
Primeiro me lembra da trágica copa do mundo no Brasil. Parece que a palavra não existia antes. Nem existe agora. Pelo menos legado da copa não existe. Mas... volta... não gosto da palavra. Tem um grande quê de ego. De vaidade. E brigo com meu ego – quando sou capaz de percebê-lo. 
Assim, deixando o ego de lado e consciente da impermanência, lhe digo que não há legado meu. Dificilmente haverá.  Não assim.  Não o concreto! Nada de holding. Ou uma invenção revolucionária.  Ou ainda uma nova forma de arte.  Sequer um best seller. Posso até construir uma ou duas coisas antes da morte, mas não é isso. Espero deixar valores (exceção feita ao anel de formatura de piano).  
Penso, trabalho, medito, oro e ajo pra fazer o mundo um pouquinho melhor (olha o ego aí...) com minha vizinha mais feliz, com dois gatos de rua abrigados e alimentados, com a gargalhada gostosa da minha sobrinha, com o sentimento de ser muito amado que deixo com quem eu amo sempre.  
Acordo sabendo que poderia não ter acordado e às vezes consigo respirar consciente de que aquela inspiração pode ser a última.  Morreria com uma baita saudades de ti. 
Assim, se alguém fica feliz quando estou perto, se outro fica melhor com um bilhete meu, se deixo mais ameno o cansaço da senhora que está de pé numa fila ou ofereço meu lugar na janela do avião para a criança que chega...  está bom.
E se eu conseguir sempre fazer isso e um pouco mais, terei deixado um legado e tanto.   

Quanto a sermos sexagenários e termos nossa história caminhando para uma conclusão... Você né fio?  Eu não... 
Acredite: sessenta são os novos quarenta baby!  (eu ía escrever quelido mas...) 

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domingo, 6 de dezembro de 2015

A taça partida

Mais uma taça de vinho se partiu ontem. Não quebrou, só trincou. Era um aviso de que aquelas taças, aos poucos, vão desaparecer. E fiquei refletindo o que isso significaria.

Essa taça faz parte de três que restam de um conjunto de seis. As outras se quebraram. Elas já têm uma idade avançada, mas fico pensando se têm histórias suficientes para contar. Eram da minha avó materna. Ela faleceu no dia 05 de dezembro de 2008. Tinha 79 anos. E, não sei ao certo, mas ela deve tê-las ganhado de casamento. O que me faz pensar que a idade dessas taças beira os 65 anos...

Hoje, vendo a taça partida, fiquei pensando o quanto minha avó deve tê-las usado. Ou, se, as usou. Lembro, quando era pequena, de visitá-la em sua casa e encontrar a cristaleira que hoje está na minha sala cheia de copos, garrafas coloridas e essas taças, pequenas, desenhadas com dourado. Mas a cristaleira sempre estava cheia de pó. E cheia de lembrancinhas de alunas dela.
A taça trincada na cristaleira da vó

Minha avó, mesmo sendo de uma personalidade difícil, teimosa, muitas vezes rancorosa, fazia um trabalho fantástico. Em um centro de assistência social ela dava a outras senhoras um sentido que ia além do de ser dona de casa ou mãe: ela as ensinava a costurar, a produzir roupas, a tricotar e a fazer crochê. Para aquela mulherada que muitas vezes era espancada pelos maridos, mas não via outra saída a não ser ficar em casa, ou as que sofriam por não ter ao certo com que alimentar os filhos, era uma visão de que as coisas podiam mudar. Elas ficavam muito agradecidas por todo o ensinamento, atenção, a possibilidade de independência financeira e auto-estima que aquelas aulas significavam.

Hoje fico pensando que, sem que eu tivesse consciência, minha avó pode ter sido o primeiro exemplo na família que puxou uma ação de empoderamento das mulheres. Mesmo sendo, em seus pensamentos e julgamentos, muito machista, reproduzindo muitos dos padrões de submissão feminina da época, ela, sem saber bem ao certo, dava ferramentas a muitas mães e donas de casa para serem independentes. Muitas delas viram o sentido profundo disso tudo e a agradeceram do jeito que podiam: fazendo bibelôs, pequenas lembranças. E minha avó guardava tudo na cristaleira. Mas deixava tudo lá, cristalizado, parado, pegando poeira.

Além disso havia o pensamento de que aquilo que era bom, chique, de melhor qualidade, deveria ser usado em dias especiais. Deveria ser guardado, preservado para que durasse mais, afinal, seria difícil repor. Não havia dinheiro.
Quando a vó adoeceu, a casa precisou ser reconstruída, houve um mutirão de limpeza para organizar e dar outro fim a tudo que ela tinha guardado. Ela ia morar com a minha mãe e cada um da família foi ver o que poderia ter como lembrança. Eu pedi à minha avó, com a anuência dos meus tios, a sala de jantar. E trouxe para minha casa a mesa, o balcão e a cristaleira com os cristais. Tudo tem um grande significado porque foi testemunha de praticamente a vida toda dos meus avós.

Mas eu também tive que tomar a decisão sobre preservar as coisas ou usá-las.  E, muito cedo, aprendi que coisas foram feitas para serem usadas e pessoas para serem preservadas. Assim, tudo o que estava na cristaleira foi sendo usado desde que está na minha casa, há mais de 10 anos. Inclusive as taças de vinho. Pequenas, com detalhes dourados. No uso, algumas se quebraram. E com a quarta trincando, penso que logo elas vão desaparecer como tudo, nos cacos da vida.


Não me arrependo.Essas taças poderão ecoar conversas alegres e festivas ou noites de reflexão solitária vindas da minha casa. Não da casa da minha avó, onde elas ficaram por quase 50 anos intactas, mas sem servir ao seu propósito de conter os líquidos que embalam os dias e noites memoráveis. Uma coisa é certa: essas taças se eternizarão em muitas memórias de dias especiais da minha vida. E, em algumas fotos, quando alguém se lembrou de tirá-las.


quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Balas de goma


Sabem aquela nojeira chamada bala de goma? Então a pessoa que há meses não sabe o que é açúcar, passa no supermercado e se depara com as ditas cujas penduradas, escancaradas, abusadamente oferecidas, fofinhas, coloridinhas, redondinhas, ao alcance de uma dentada...duas dentadas...uma bochecha cheia de doçura... Eis que a boca começa a salivar, o olho não enxerga mais nada além das cores que já viraram néon; o cérebro arruma um monte de desculpas e a mão puxa o primeiro saco. 
Um só?? Não!!! Em porcaria que se preze é preciso ir fundo! Pega mais um! 
Tamanho pequeno? O quê??? Nem pensar!! Tamanho médio, quase grande! Precisam ser muitas...muitas!!! 
Cair de boca! Se jogar! Pisar na jaca, e com os dois pés! 
Tem dias em que ELA diz: pode! Pronto! Eu posso! Comi um saco inteiro para a alegria da minha criança gulosa e feliz! Lembrei do avô que me enchia de balas e, segundo mainha, foi o responsável pelas minhas cáries na primeira dentição. Liguei o foda-se!
Hoje é um daqueles dias em que eu preciso disso!!!


Rejeitando a normose

Ontem era para ser um dia qualquer. Não, na verdade nenhum dia é igual ao outro e, se colocarmos significado em tudo, veremos a especificidade de cada momento.

Mas era para ser um dia sob o status da normalidade. Tudo correndo de maneira adequada, prevista, comum.

Até o momento em que cheguei em casa, as 23h, depois de uma maratona com o Bóris, estava tudo bem. Bóris é o cão achado que estamos cuidando de maneira comunitária – sim, temos amigos fantásticos ajudando – até que ele encontre uma família digna dele.

Bem, em casa nos dividimos nos afazeres. O marido precisava preparar uma aula a ser dada cedinho, eu e filho discutimos dividindo os outros afazeres.

Eu: - Você prefere levar a Pandora (a cã) para fazer o xixi ou recolher o carro na garagem?
Filho – o carro, claro.

Descemos os três: ele, Pandora e eu. Eu atravessei a rua e fui para a grama do vizinho - que é sempre bem mais verde, inclusive para os dogs – e esperei ali a cã reconhecer os cheiros. Nisso, um homem resolve atravessar a rua e, em todo o seu trajeto falava algo sobre a cã que estava passeando. Até então não tinha dado bola, porque acostumei com gente falando sobre cã. O homem não parou de falar andando em minha direção. Ele estava entre eu e minha casa. E, em determinado momento, pude ouvir:
- te pegava todinha e dava um jeito de te fazer...

O desespero bateu. E a primeira coisa que fiz foi pensar que meu filho estava ali, a alguns metros, na garagem. Que ele era homem. Que ele era alto. Gritei.

- Diogo!!! Tem um moço aqui querendo falar com você.

A cara de desespero do homem, que continuou andando descendo a rua sem passar por mim, foi nítida. Havia um macho no local.

Meu filho veio calmamente atravessando a rua. O homem apertou o passo e desceu para cuidar dos carros. Eu me expliquei, me sentindo muito impotente.
- Desculpa, Di, mas ele estava falando besteiras.
- Eu ouvi.

Ele me acompanhou em todo o trajeto com a cã. E conversamos.
- Você consegue entender o quanto isso é ridículo? Eu ter medo de enfrentar um homem desses, colocá-lo no lugar dele? A primeira coisa que pensei foi em correr para casa, mas ele estava entre eu e a casa. Por que temos que sempre ter medo?
- É mãe, não é fácil para vocês, eu sei. Eu vejo isso todos os dias. Minha amiga do trabalho poderia fazer o mesmo trajeto que eu faço todos os dias, no mesmo horário que eu. Ir caminhando para casa. Mas ela não faz quando escurece. Porque é mulher, porque tem o computador com ela, porque...  

- A gente precisa mudar isso.
-É, precisa.


Não, isso não é normal. Não é.











A chic é Rosana
Não usa pretinho
pra não dar pinta





Denis
coluna tranqüila
e coração ereto






Tássia
pin up e lambe-lambe
Lambe cria






Dorotéia
só escreve em italic







Paula Bolzan






Nívea Bona
Marca compasso
Vem pro abraço






Marina Victal
Mineira apresenta armas
Espada em punho








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Em 2009 eu vou...
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Enviado Divino
Meu Primeiro Professor









    I Clichê


    II Clichê


    III Clichê


    IV Clichê


    V Clichê


    VI Clichê




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