Rejeitando a normose
Ontem era para ser um dia qualquer. Não, na verdade nenhum
dia é igual ao outro e, se colocarmos significado em tudo, veremos a
especificidade de cada momento.
Mas era para ser um dia sob o status da normalidade. Tudo
correndo de maneira adequada, prevista, comum.
Até o momento em que cheguei em casa, as 23h, depois de uma
maratona com o Bóris, estava tudo bem. Bóris é o cão achado que estamos cuidando
de maneira comunitária – sim, temos amigos fantásticos ajudando – até que ele
encontre uma família digna dele.
Bem, em casa nos dividimos nos afazeres. O marido precisava
preparar uma aula a ser dada cedinho, eu e filho discutimos dividindo os outros
afazeres.
Eu: - Você prefere levar a Pandora (a cã) para fazer o xixi
ou recolher o carro na garagem?
Filho – o carro, claro.
Descemos os três: ele, Pandora e eu. Eu atravessei a rua e
fui para a grama do vizinho - que é sempre bem mais verde, inclusive para os
dogs – e esperei ali a cã reconhecer os cheiros. Nisso, um homem resolve
atravessar a rua e, em todo o seu trajeto falava algo sobre a cã que estava
passeando. Até então não tinha dado bola, porque acostumei com gente falando sobre cã.
O homem não parou de falar andando em minha direção. Ele estava entre eu e
minha casa. E, em determinado momento, pude ouvir:
- te pegava todinha e dava um jeito de te fazer...
O desespero bateu. E a primeira coisa que fiz foi pensar que
meu filho estava ali, a alguns metros, na garagem. Que ele era homem. Que ele era alto. Gritei.
- Diogo!!! Tem um moço aqui querendo falar com você.
A cara de desespero do homem, que continuou andando descendo
a rua sem passar por mim, foi nítida. Havia um macho no local.
Meu filho veio calmamente atravessando a rua. O homem
apertou o passo e desceu para cuidar dos carros. Eu me expliquei, me sentindo
muito impotente.
- Desculpa, Di, mas
ele estava falando besteiras.
- Eu ouvi.
Ele me acompanhou em todo o trajeto com a cã. E conversamos.
- Você consegue entender o quanto isso é ridículo? Eu ter
medo de enfrentar um homem desses, colocá-lo no lugar dele? A primeira coisa que pensei foi em
correr para casa, mas ele estava entre eu e a casa. Por que temos que sempre
ter medo?
- É mãe, não é fácil para vocês, eu sei. Eu vejo isso todos
os dias. Minha amiga do trabalho poderia fazer o mesmo trajeto que eu faço
todos os dias, no mesmo horário que eu. Ir caminhando para casa. Mas ela não
faz quando escurece. Porque é mulher, porque tem o computador com ela,
porque...
- A gente precisa mudar isso.
-É, precisa.
Não, isso não é normal. Não é.
2 Comentários:
Que merda isso! Meu filho faz aulas de defesa pessoal. Começo a pensar seriamente nisso!
Mais do que isso, Ro, é preciso começar a sensibilizar a comunidade para se proteger. Para um ajudar o outro. Acho que essa é uma forma interessante de nos imunizarmos dessa violência. E, claro, educar melhor os meninos.
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