segunda-feira, 30 de junho de 2008

ÁFRICA da TÁSSIA - PARTE II

Ainda no meu vôo de ida, na TAAG: Depois do saco plástico oferecido como solução para a goteira no ar-condicionado, achei por bem não reclamar da minha poltrona emperrada. Fiquei com medo da aeromoça me relocar para a turbina do avião. Preferi abrir um livro, esperar o avião decolar com a esperança de que meus pensamentos se perdessem no tempo e no espaço, a milhares de metros de altitude, junto às nuvens. 10, 15, 20, 30, 35 minutos. Todos acomodados e nada do avião decolar. Continuávamos ali parados na pista do Galeão. Dentro de mim, aquela demora roía toda a minha estrutura. Botava em prova a minha escolha. Eu queria sair logo do Brasil, queria piscar o olho e acordar em Angola na rotina nova. Como se existisse uma linha divisória: metade de mim pedia pra ficar. A demora em partir só piorava tudo. Uma tortura. Duelo com o racional que gritava sedento para conhecer a vida além mar. 1h10 após ter entrado no avião - * uma hora e dez minutos depois - finalmente levantamos vôo em direção ao Atlântico Sul. *Dizem que isso é super comum. Quando cheguei no Rio, por volta das três da tarde, ninguém sabia informar se o vôo das 17h, rumo a Luanda, estava confirmado. Decolamos às 20h. E não se trata de crise dos controladores de vôo. O atraso faz parte do jeito TAAG de voar. O serviço de bordo começou com um jantar. -Frango ou peixe? pergunta a aeromoça. Escolho peixe. Ao abrir o pratinho me deparo com um pedaço de bife sangrento. Tudo bem, ela deve ter se enganado, penso comigo mesma. - Moça, veio errado. - Pediste isto. Rebateu sem nem direcionar os olhos a mim. Terminou de servir o rapaz da ponta e deu as costas. Assunto encerrado. Não gostei do cheiro da comida menos ainda da aparência. Tampei novamente e empurrei pro canto da bandeja. - Não coma não. Da última vez tive dor de barriga, alertou o passageiro que viajava do meu lado. Fiquei no paozinho com manteiga e coca-cola. Mas o lanchinho deu sede. Quando a aeromoça passou de volta pra recolher os pratos, pedi água. - Já bebeste gasosa, respondeu. Mais uma vez, fiquei pasma. A resposta curta e grossa incomodou o meu colega de encosto de braço. - Mas a dama quer água! Onde já se viu negar água a alguém?, disparou o rapaz. A aerokota saiu raivosa, feito criança malcriada quando é desafiada pelo pai. Dois minutos depois voltou com o semblante fubando, copo de água nas mãos, como se tivesse tido um trabalho enorme pra molhar a minha garganta. Como gente é bicho que não se mede, desconfiei que a moça tivesse cuspido no copo ou então recolhido a água da latrina, assim como fazem os garçons quando se sentem maltradados pelos clientes. Agradeci a bondade e deixei o copo na bandeja esperando a próxima turbulência colocar fim naquilo. Era o começo de sete horas de total desconforto na poltrona sem reclinar, com fome e sede. Meu sono não veio com o apagar das luzes. Estava sentada na janela, abri pra ver o que tinha do lado de fora. Apenas escuridão e umas nuvens. Era um nada, mas, misteriosamente, me agradava. - Tem que ficar fechada, interrompeu a aerokota. Que saco, que tédio, que horror! Que criatura mal amada, pensei com meus botões. Pior que não era a mesma da goteira nem a da água nem a do peixe que era um bife mal passado. Era uma outra, inédita até então, mas com a mesma grossura peculiar, além dos 5 cm de unha natural, sem ser postiça, outro elemento comum às moças. Quando finalmente amanheceu, desembarquei em Luanda. 7h da manhã no horário local, quatro horas a mais que na Bahia (vide relógio no sidebar). Lá do alto, quando o avião foi baixando aos pouquinhos, logo me chamou atenção a quantida de navios atracados na baía. Eram tantos, de meter inveja no porto de Santos (Tia Denis, essa é pra você). Parecia uma maquete de batalha naval. Dias depois entendi que a comida escassa no supermercado, o iogurte estragado, a variedade de bebidas alcóolicas, os carros importados, as roupas, os materiais de construção civil e tudo mais que você puder imaginar como essencial ao abastecimento de uma cidade, vem dali. Daquele congestionamento no mar. Angola não tem indústria e importa absolutamente tudo o que é consumido no país. Mas esse é assunto para um outro post. Vamos voltar ao desembarque no avião. Foi bom pisar em terra firme. Queria mesmo chegar na África. Problema que demorou mais de duas horas pra cruzar a linha da imigração. O meu vôo inteiro precisava ter o passaporte carimbado, apenas uns 15 eram angolanos. No mesmo momento, chegaram dois vôos da TAP e outro da Air France, também repletos de imigrantes. Fiquei uma hora em pé no sol quente, no pátio junto aos aviões, esperando a fila andar pra poder entrar no salão da imigração. Era tanta gente pra ter o visto que não cabia ali naquele lugar cuja estrutura mais parece com uma rodoviária. Foi nessa hora, novamente no desconforto, sentada na minha bagagem de mão, que comecei a entender que Luanda realmente é uma cidade em REconstrução. Como uma fábrica tocando a sirene em início de expediente, todos estavam ali pra trabalhar. Nada de turismo. Quando finalmente fui atendida no guichê da imigração ... a funcionária disparou uma seqüência de perguntas na velocidade da luz. Não consegui entender nada por causa do sotaque. - A senhora pode falar um pouco mais devagar?, pedi enquanto me esticava ao máximo, na ponta dos pés, tentando driblar o balcão de tamanho desproporcional à minha estatura. - Estás a brincar?, respondeu em nítido tom de impaciência. - Não senhora! É que não consigo ouvir direito e não entendo! É a primeira vez que venho a Luanda e embora seja a mesma língua ainda não me acostumei com o sotaque de vocês... Como resposta, ouvi o barulho do carimbo. Duas horas depois de ter chegado. Sono, sede, fome e dor de cabeça me acompanhavam. Fui tirar a minha mala e essa é outra cena que jamais vou esquecer. Uma esteira curta e estreita para quilos e quilos de bagagem de três vôos internacionais. As malas despencando a cada solavanco desgovernado do equipamento quase sem rotação. Centenas de pessoas amontoadas como se estivessem em uma rinha de galo. Nenhuma placa de sinalização indicando a qual vôo pertencia aquelas malas. Cheguei a ver passageiros furiosos por terem encontrado a mala lascada ou cadeado arrombado. Vi também dois passageiros disputando a posse da mesma mala. Preta de rodinha é altamente desaconselhada nessas horas. Quem brigou ficou por isso mesmo. Aquela confusão no desembarque, não tinha com quem reclamar. Os poucos funcionários angolanos, que estavam no local, orientavem que era em outro setor reclamação de babagem. Tive sorte. Um angolano esbelto, 1,90 de altura, safo em desembarque, funcionário da empresa na qual trabalho, me aguardava com as minhas malas. Fomos pro raio X. E outro susto. - Vou colocar sua mala aqui na esteira, você sai correndo pra pegar do outro lado, ok?, orientou P., com uma suavidade que contrariava seu porte comum aos pivôs de basquete, o esporte número 1 de Angola. Achei completamente sem sentido aquela orientação, mas não tive muito tempo pra pensar. Quando vi minha mochila com todo o meu equipamento fotográfico sendo arremessada que nem saco de batata em fim de feira, corri que nem uma louca para o outro lado do raio X. Tarde demais. Já encontrei a mochila rolando no chão. Toda calma que eu tinha preservado até então, somado ao estresse de ficar acordada por mais de 24 horas, veio por água abaixo. Catei a mochila do chão, meti nas costas e voei pra cima do funcionário do raio X que, ao invés de monitorar as malas, estava de costas para o aparelho. - CARA!!! PRESTA ATENÇAO !!! OLHA A MERDA QUE VOCÊ ACABOU DE FAZER !!! TEM EQUIPAMENTO DIGITAL E TEM .. ... .... P. me tirou daquela discussão que a nada levaria. Falou calmamente pra eu não ficar chateada enquanto me levava para o carro. Sentei no banco do carona e comecei a conferir a situação da minha máquina fotográfia e das lentes. Por sorte, estava tudo bem. Material intacto. O fim da viagem? Mais uma hora pra chegar na primeira casa em que fiquei. Dez quilômetros de distância do aeroporto. Dez quilômetros em uma hora !!! E eu apavorada! Culpa do tal do trânsito mangolê... Um terror! Mas essa, é uma outra história ... . . .

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1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

A Africa é tua,Tassinha. Somos todas coadjuvantes! Bora lá que estou esperando o resto.
bj

30.6.08  

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