A eterna tentativa de esconder que fedemos levada agora a outro patamar
Acontece em toda a relação. Enquanto estão no início
do relacionamento, se apaixonando, existe aquele jogo de se arrumar, maquiar,
de vestir assim ou assado, para agradar. Só agradar. A gente constrói um ser
que não é a gente para não ser rejeitado. Normal. Teorias da psicologia até
devem explicar isso, da idealização e tals. E pode ser relação hetero ou gay,
não importa. Tenho amigos gays que morrem de vergonha do parceiro quando se
trata de cagar.
Por isso, talvez, tantos relacionamentos depois de um
certo tempo caem como se apodrecessem no pé... Porque tem gente que consegue segurar
os papeis por mais tempo, outros são péssimos atores. Quantas pessoas são uns
amores até conseguir a primeira garantia de estabilidade, tipo uma aliança ou
algo similar? Depois mostram a que vieram.
Muito por condicionamento social/cultural, muito por
essa idealização idiota, a gente acaba tentando esconder a todo custo que
cagamos. Principalmente as mulheres. Mulheres devem cheirar a rosas... Devem
brilhar, flutuar, ser delicada, princesa, bla bla bla... Diga pra mim se isso
nunca aconteceu com você. Nos primeiros meses nada de cagar na casa do
namorado. Deus me livre! Imagine se ele descobre que meu cocô fede!
Durante muito tempo eu fui essa pessoa. Tinha um
problema imenso de cagar fora da minha casa. Intestino preso revelava bem essa
prisão conceitual. Era muito raro quando ele funcionava, e se funcionasse no
lugar errado, era intencionalmente travado por mais um tempo. Até que isso
começou a me fazer mal. E junto com algumas características que eu já odiava em
mim, joguei fora todo e qualquer pudor em relação ao Número 2. Eu ainda tenho
problemas em cagar em lugares pequenos, que sei que pode atrapalhar outras
pessoas desconhecidas. Mas se o banheiro é público, tem um monte de opções de
assentos para outras pessoas, eu não tenho mais problemas. Foda-se. Cocô fede
mesmo. E daí?
As relações evoluíram nesse nível também. Eu morria de
inveja da liberdade poética e retórica do meu irmão que sempre anunciava que
iria destruir o banheiro, que se alguém quisesse usar antes, deveria. Depois
ele saía ainda descrevendo sua produção. Tem muito de machismo isso? Mas sem
dúvida. Homens podem ser escatológicos, falar de cocô ou outras coisas nojetas
(ui, me lembrei do banheiro de Trainspponting). Chega a um ponto a liberdade deles que estávamos uma
vez em um avião indo dos Estados Unidos para o Brasil, e meu irmão acostumado a
falar português durante 15 dias sem ninguém entender lhufas, veio até o meu
assento no avião e falou em alto e bom som: “vou ali soltar um barro e depois
venho ver o filme com você”. Eu queria morrer. Eu queria a capa da
invisibilidade do Harry Potter. Eu queria que um buraco se abrisse no avião e
eu saísse direto para o oceano atlântico. Mas o máximo que fiz foi me abaixar e
colocar os fones de ouvido, sem olhar para o lado.
Houve também uma vez, em um avião da Aerolíneas Argentinas
que alguém fez uma obra tão excepcionalmente fedida que os tripulantes
precisaram caminhar com um spray pelo avião todo. E foi avisado no autofalante
que haviam gases tóxicos vindos do banheiro e por isso precisariam usar o spray
no avião todo. Eu só fiquei imaginando como a pessoa autora ficou se sentindo.
É engraçado como a gente acusa todo mundo pela
produção do seu intestino. Como se a gente conseguisse controlar os fedores
intestinais. Como se não fosse natural cagar fedido e peidar fedido. Como se
todo mundo não soubesse que cocô deve ser feito diariamente para uma pessoa ser
saudável e que esse cocô fede.
Falando em cagar, eu ainda visualizo a cara do meu pai
dizendo: não fale assim! Diga “fazer cocô”! Oras, que diferença faz? Ah, sim,
sou menina...
Bem, me libertei. Resolvi seguir meu irmão e falar as
coisas do jeito que são. A liberdade que a gente sente quando o relacionamento
vai para esse nível de intimidade, é indescritível. Hoje eu tenho condições de
dizer aqui em casa: “acho bom você ir escovar os dentes antes porque preciso
fazer o número 2”. Aí saio do banheiro e digo: “não está tão ruim hoje” ou “viixe,
vai demorar um tempo para se esvair o cheiro, melhor ficar longe...” A vida
fica leve. O respeito ao outro fica claro sem tornar as coisas artificiais.
Nesse processo, poder dizer que a pessoa está com bafo, ou com uma alface no
dente ou um tatu no nariz, sem que isso vire um auê é absolutamente libertador.
As coisas ficam naturais. E o relacionamento mais inteiro, mais tranquilo.
Claro que há limites para isso. Eu tinha uma amiga que
sentava no colo do namorado enquanto ele cagava. Aí eu acho too much. Num dá,
né? A pessoa tem que ter a privacidade para produzir seus cheiros horrendos sozinha. E
a outra precisa se dar ao respeito de não querer cheirar essas fedentinas, não
é?
Pois bem, mas afinal, o que me trouxe aqui para falar
de todas essas coisa nojentas é que descobri há algum tempo que teve gente que
levou essa “brincadeira” para o outro extremo mesmo. No início eu achei que era
piada. Não é. O produto está à venda, e tem concorrentes! A propaganda é ótima.
A marca possui engajamento social quando defende saneamento básico. Enfim a
estratégia e fenomenal. Está em inglês, mas mesmo para quem não entende muito o
britânico, como eu, o vídeo se auto-explica. Perceba o cenário, as situações e
se veja nelas. Que tal? Agora, nós mulheres, princesas que flutuam e não
possuem pelos nem cagam podemos realmente manter o personagem... Só precisamos
carregar uma mochila em todo lugar que formos. Porque vamos precisar de
maquiagem, lencinho umedecido, de desodorante e, agora, do spray-evitador-de-cheiro-de-cocô. Pois
é.
Poopourri - uma brincadeira com a palavra Poop = cocô e Pot Pourri, que é um sachê de cheiros bons misturados.
V.I.Poo = também um acrônimo de Very Important Person e Poop= cocô.
2 Comentários:
KKKKKKKKKKKKK!!! Acabo de descobrir que tenho muita dificuldade em defecar fora de casa!!!!
Vc precisa de um VIPoo!
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