sexta-feira, 2 de outubro de 2015

O ENCONTRO - 50 anos depois - dedicado a Ewa Danuta Cichecka

Rosária.
Linda.  E alta. E loira. E jogava queimada como nenhuma outra.  Pra cortar os pulsos cada vez que via... mas não. Era doce, bem humorada, feliz.  Queridissima.  Reencontro  Rosária mais de 40 anos depois e quase cortei os pulsos. Só não cortei porque não jogamos queimada!  Ela é a mesma. Do Luiza com Z mas que pode ser com S e ela sabe disso. Luiza Macuco.  Rosária cuidadosa com os amigos, reúne as meninas da classe todos os anos. Que classe? A de 1965. A de 50 anos atrás. 
Pausa para respiração profunda.
Trocamos virtualidades.  E agora, acho que desde semana retrasada, tá lá Rosária no meu inbox avisando da próxima reunião. Ela é cuidadosa lembra? Quer saber quando posso ir... e daí em diante tem sido uma avalanche de recordações amorosas todos os dias, todas as horas, minuto a minuto às vezes. 
Fomos ressurgindo. Cada um trazendo seu melhor – às vezes esquecido, guardado junto com uma letra de música amarelada, a carteira do grêmio estudantil, o boletim com mais faltas do que notas, convite de formatura... ou as fotos. Muitas fotos. Pego a minha de 1965. A única que faltava para a Rosária. Somos crianças. Quase todas com 11 anos.  1.ª Série do Ginásio.  Colégio Estadual.  Era brabo para entrar. Tinha exame de admissão depois do primário e às vezes não dava pra passar e a gente tinha que fazer um 5º ano de Primário. Estamos lá na foto do PantaleÓN Alcaraz que nos fotografou até o 3.º ano e nos colocou na mesma capa de papelão verde com o endereço na frente e o preço dentro.  Cr$ 1.000,00 (antes dos cruzeiros novos). 
As lembranças não chegam em anos. Nem separadas em arquivos por letras do primeiro nome. Chegam se atropelando. Paulo Esteves. Só toquei em público uma vez - na minha formatura - e uma vez para ele. Fiz uma audição de piano exclusiva.  Heloisa Hunold.  Dezenas e dezenas de vezes, na frente de um arquiteto bam bam bam, eu lembrava da casa dela, com aquela mesa de cozinha gigante embaixo de um pergolado transparente  com pé  direito triplo.  A Ewa que me trazia histórias de um mundo muito distante e do irmão dela que jogava rugby. A Leka e a Sonia. Parceiras de noites sem dormir e cigarros roubados.  A Ana e o cabelo igual ao meu.  A Lurdes, séria e inteligente. A Cristina Mancuso, uma espoletinha sempre pronta. A Dalva e o Régis... ui...  A Eunice e o mesmo humor contagiante! O mesmo sorriso sem medo de nada! Os laços da Tania. Os irmãos mais velhos ou mais novos na cantina. O Bizelli e o Rinaldi, dupla inseparável de doces amigos e uma caixinha de música azul. Espiga, China, Aragão – e o amado irmão dele - que mais do que vencer no basquete, ou de representar nosso Luiza por aí, eram nossos companheiros queridos!  Cansei de sentar a bunda no gelado concreto das arquibancadas dos ginásios pra ver vocês jogarem!  Carrasco, Lumumba, Ernestos, Pepino... A letra da amorosa sofrência da Leda. A voz cantante do Sujo. O piano do Bizelli e a bola de basquete do Rinaldi. Meninos que foram nossos primeiros exemplos de homens! E foram mesmo! Dos melhores exemplos! (como menina, torço para que também tenhamos deixado uma boa impressão feminina pra eles!).
Na verdade nós não deixávamos impressão. Nós éramos. Aquilo ali. Aqueles ali. Sem photoshop ou filtro. Sem selfie. Sem usar chats pra contar as novidades. Soubemos como viver cada a cara, olho no olho, todo dia, 4 ou 5 horas por dia, às vezes mais, por 3, 4, 5, até 7 anos seguidos,  como as meninas da foto de 1965!  Nem sei mais o que é preciso pra isso. Nem sei se isso ainda é possível mas com a gente foi. Crescemos juntos.  No amplo significado da palavra.  O Luiza viu a nossa transformação em adultos. Nós nos vimos... nós nos acompanhamos.  E as perdas doeram como se a notícia fosse dada no meio de uma aula.
Fato é que naquele estranho “submarino” meio achatadinho,  no fim da cidade, depois do canal 6, criamos um elo que agora nos transporta para aulas, notas, professores, esportes e festivais. Bailinhos, aniversários, encontros ao redor de um violão. Nos leva num passeio pela cidade antiga, pelas casas onde moramos, pelos bondes, pelos exames de segunda época... senta a gente naquelas pequenas carteiras de madeira em ripas e nos veste com uma saia pregueada – ou calça - e um vulcabrás nos pés.
Temos um delicioso elo que faz com que – quase – quando eu saio do computador, depois das nossas conversas virtuais, sou capaz de me ver no espelho de franja.  “Nosso reencontro nos transforma” (Ewa).
Aliás, acho que vou pedir pra costureira fazer uma saia cinza com prega macho na frente, comprar uma meia três quartos branca e um mocassim preto. Só pra rir... porque o elo perdido já encontramos.  Ou, nunca perdemos.



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2 Comentários:

Blogger Dorotéia Sant'Anna disse...

Uau!!!!! Sentir profundo!!! É isso que nos mantém vivos!

3.10.15  
Blogger Dna. Bona disse...

Que delícia essa viagem! Eu não tenho metade das memórias que vc consegue manter, mulher! Que coisa mais linda! Em frente!

3.10.15  

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