quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Sobre empreguetes e patroetes

Em tempo de empreguete fazendo sucesso em horário nobre, me impressionam as empreguetes ralando o bucho na vida real. Todos os dias de manhã, quando passo ali no Horto, na rua Santa Luzia, antes de pegar a avenida Waldemar Falcão, metro quadrado (que se tornou) caríssimo na capital baiana, fico observando o punhado de empreguete andando em direção aos condomínios de luxo. Não passa ônibus na Santa Luzia. Quer dizer, se passa eu nunca vi. Só vejo carros. E na calçada estreita, margeada de muros altos, super altos com cerca elétrica, dezenas de empreguetes a caminho do sustento. A maioria desce na avenida ACM e segue caminhando uns dois ou três quilômetros, a depender da localização da casa da patroa. Suspeito que várias devem ir andando de casa mesmo, da Santa Cruz, do Nordeste e da Vasco da Gama, moradoras do entorno economicamente desfavorecido. Elas são de todos os tipos e formas, mas percebo que a maioria é baixinha, no máximo de um metro e sessenta e pouco. Pele morena, mulata ou negra. Cabelos crespos. Presos sempre, seja comprido ou seja curto. Algumas dá pra ver de longe que são bíblia – o saião denuncia. Muitas tem cara de mulher da lida, mãe-e-pai de família. Quase nenhuma tem cara de Aparecida ou Rosário – talvez por uma questão geográfica. E nenhuma tem cintura e bunda de Penha – certamente por uma questão de bom senso. Penso eu que madame nenhuma é besta de botar um mulherão que parece ser Penha em casa. Digo parece ser porque na TV tudo aumenta. Taís Araújo é pequenininha. Negona-mulherão são as do Ilê. Estereótipos a parte, o que me chama a atenção de fato é o empenho. Tem a turma das 6h30, as tranquiletes: vão na calma de Deus, até papeiam umas com as outras. Diferente da turma das 7h. Essa vai no pique, visivelmente preocupada com o café da patroinha e dos meninos, que a essa altura já saíram com o motorista para o colégio. E tem a turma das 7h30 em diante: ao invés de caminhar, corre, com a bolsa exprimidinha debaixo do braço, certamente na tentativa de continuar no emprego. Forçando (a barra para) uma visão sociológica, é possível assistir todos os dias de manhã o fluxo migratório de dezenas de mulheres que seguem a pé em busca do sustento. Há quem ressalte, inclusive, que para cada novo prédio ou condomínio de luxo erguido são criados não sei quantos novos postos de trabalho. Até mesmo porque, além das domésticas, temos o motorista, o porteiro, o auxiliar de serviços gerais, o segurança, o jardineiro, o ladrão, a quadrilha... .Os dois últimos deixarei para outro post. Enfim, emprego pra todo mundo, uma oportunidade para a cidade. Resta saber, afinal, quantos estão regularizados, quantos tem a carteira carimbada. Eu, que passo por ali todo dia, fico observando o vaivém das empreguetes, as mais recentes varandas gourmet, os refletores das quadras de tênis, as portarias blindadas etc. Até que não é um lugar ruim de morar, né não... Se fosse assim presente ou herança de família, acho que aceitava. Sem muito sacrifício... a modéstia sempre me coube. E hoje, ao ver mais uma vez a romaria de domésticas, lembrei de um amiga, rica, elegante e sincera.
Recentemente nos encontramos em Minas Gerais no casamento de outra amiga em comum. Ao conhecer aquele bairro lindo e chique que tem em BH, lá no pé Serra dos Currais, onde tem a praça do Papa, vista deslumbrante com várias casas lindas e lindas, o anfitrião querendo nos impressionar com cifras sobre o valor dos imóveis, à rica coube apenas uma pergunta lacônica: Por acaso é fácil arranjar faxineira em BH? Em Salvador pra limpar um apartamento já tá difícil, imagine uma casa desse tamanho, emendou.

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7 Comentários:

Anonymous Rosana Zucolo disse...

E ela voltou!!!!!!!!!!!!!!
Assim...direto no rim!
besitos e sodade

2.8.12  
Blogger Denis disse...

Bela - e gostosissima - análise! Num quadrado... onde cada qual sabe o seu quadrado. E pensar que esse quadrado pode ser ampliado... e ampliado... e ampliado... até onde a vista alcança! Bem vinda de volta Tassita!

2.8.12  
Blogger Amélia disse...

ô Dona Tássia, a senhora podia fazer um post sobre estagiete! Ía abalar A Patroa! A senhora gostou da sua boneca? Achei outra tão lindinha... Mas que bom que a sra está aqui. E já avisou A Repórti que é pra voltar? Ela só ouve a senhora... Bs.

2.8.12  
Blogger tássia disse...

Amélia, amei minha bonequinha, vc sempre arrasa, desculpe-me não ter comentado antes. E gostei da ideia do post, vou tentar.

Beijos em Denisita e na Pró! Saudades. Olha, passei tanto tempo sem postar, desaprendi a fazer título. E reli o post agora, tinham uns errinhos... A Patroa pode ficar a vontade para consertar

2.8.12  
Blogger Paula Bolzan disse...

Que texto bom, Tássia! Que saudade de ler teus posts!!

2.8.12  
Blogger tássia disse...

Oi, Paula! Obrigada:)

8.8.12  
Blogger Dna. Bona disse...

Mulher, tardo mas não falho. Punk mesmo essa sua realidade! Seja bem-vinda de volta!

13.8.12  

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e coração ereto






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