ÁFRICA [Nina Rosa]

Depois de fazer uma reportagem sobre mulheres africanas no Brasil meu interesse por esse povo ficou maior ainda. Explico o maior ainda: sempre me interessei pela cultura negra, em particular pela beleza negra (masculina então, nem te conto!).
Mas voltemos à cultura.
Durante a reportagem conheci a Neca. Jovem, negra, bonita. Veio de São Tomé e Príncipe em busca de estudo e liberdade.
Entrevistei a Maria Odete Semedo, escritora e ex-ministra da educação e da saúde de Guiné Bissau. Forte na política e na poesia.
Conheci ainda a angolana Maria, que na década de setenta veio para o Brasil com o marido e as três filhas, fugindo da guerra. Artista plástica vê cores parecidas na África e no Brasil.
Mulheres com uma vida tão diferente e tão semelhante à nossa. Todas falaram da guerra e da fome. E a gente fica com pena. Como se os morros brasileiros não estivessem guerreando, como se tantas crianças não estivessem subnutridas aqui também.
Mas falaram das cores, da música, da comida. Segundo elas, tudo diferente e ao mesmo tempo parecido.
No mês passado fui a um lugar chamado Casa África, aqui em Belo Horizonte. É uma mistura de barzinho e espaço cultural, que fica nos fundos de uma casa. O chão é coberto por esteiras e as cortinas coloridas. Almofadas substituem as cadeiras e a comida é temperada e forte. Lá dentro uma mistura engraçada: português com português. Sotaques diferentes. Muito parecido com quando a gente reúne brasileiros de diferentes regiões. É tudo português. Mas nem parece.
Nossa história com a África é tão embolada. Triste da escravidão e alegre de cultura.
Passei a semana com o cabelo trançado. Trança de raiz, penteado africano. Branca de pele e negra por opção.

“Em que língua escrever
As declarações de amor?
Em que língua cantar
As histórias que ouvi contar?
Em que língua escrever
Contando os feitos das mulheres
E dos homens do meu chão?
Como falar dos velhos
Das passadas e cantigas?
Falarei em crioulo?
Mas que sinais deixar
Aos netos deste século?
Ou terei de falar
Nesta língua lusa
E eu sem arte nem musa
Mas assim terei palavras para deixar
Aos herdeiros do nosso século
Em crioulo gritarei
A minha mensagem
Que de boca em boca
Fará a sua viagem
Deixarei o recado
Num pergaminho
Nesta língua lusa
Que mal entendo
Ou terei de falar
Nesta língua lusa
E eu sem arte nem musa
Mas assim terei palavras para deixar
Aos herdeiros do nosso século
Em crioulo gritarei
A minha mensagem
Que de boca em boca
Fará a sua viagem
Deixarei o recado
Num pergaminho
Nesta língua lusa
Que mal entendo
E ao longo dos séculos
No caminho da vida
Os netos e herdeiros
Saberão quem fomos”
(Maria Odete Semedo in “Entre o Ser e o Amar” INEP, 1996 )
Marcadores: Nina Rosa
3 Comentários:
??????????????????????????????????
O seu lugar é na Bahia, uai! Deixa a Nina Rosa em Belô e vem ser a Nina Preta do Pelô.
Ô Seu Ari, sabe que não é má idéia? Quem sabe não mando uns currículos pra Bahia?
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