quarta-feira, 15 de março de 2017

Como lidar com haters: lições de abroad

Eu não sei se é a frieza e racionalidade americanas que ajudam, mas tenho percebido que a galera aqui lida muito bem com os haters das redes sociais.

Há tempos que venho tentando diligentemente evitar as caixas de comentários de determinados jornais brasileiros, porque elas mostram exatamente o reflexo do congresso nacional (em minúscula, sim, porque dá para protestar com gramática) no povo. Ou o povo que elege esse congresso do século passado. Semana de luta do dia da mulher, muitas ações no mundo todo e o que se ouve da presidência atual é que mulher é determinante para os lares e para a economia: quando controla o preço das coisas no mercado. Não é só decepcionante. É afrontante.

E aí qualquer postagem em rede social vira uma super disputa.

Exatamente porque eu estava pesquisando a Women´s March que aconteceu aqui nos Estados Unidos um dia depois da posse do outro misógino, eu resolvi dar uma geral em postagens que falavam sobre o dia da mulher.

No mundo todo, quem pode, fez greve para mostrar onde estamos inseridas. Em uma dessas postagens sobre a greve, um idiota comenta numa página no Brasil: “espero que elas tenha deixado o almoço pronto antes de ir para o protesto”. Qualquer mulher teria o sangue fervendo com um comentário desses, mas o que é determinante, é como você age em relação a isso. Mantendo meu padrão masoquista, segui as respostas que a mulherada deu para esse comentário: “puxa, não sabia que você não sabia cozinhar”; “cara que pena, deixaram o almoço pronto e ainda assim tiveram tempo para sair. E você, que não consegue coordenar uma louça na pia?”... E o festival de respostas para  o moço foi longe. Eu balancei a cabeça.

Durante a disciplina que fiz sobre escrita aqui em uma faculdade local, discutimos muito os discursos de ódio nas redes sociais e fora delas. E uma das sacadas masters que eu tive durante aquele debate é que nosso comportamento para combater preconceitos e ódios em geral, deve ser exatamente o oposto quando se trata de mundo concreto e mundo virtual (sei que o conceito precisa ser melhorado, mas vamos seguindo pelo senso comum).

No mundo concreto a gente precisa peitar. Sempre com comunicação não violenta, com comportamento civilizado sempre que der, mas peitar. Levantar a voz e dizer claramente: “não gostei dessa sua piada. Ela é agressiva com as mulheres loiras. Tenho muitas na minha família. Se me der licença me retiro, prefiro não ouvi-las.” Ou ainda: “não entendi porque você diz que sua mulher não é capacitada para levar o carro para a oficina. Porque ela não seria? Ela tem algum tipo de necessidade especial?”, ou ainda, “Tio, por favor, eu quero ouvir a opinião da tia sobre isso. A sua eu já sei. Obrigada”. Eu sei. É difícil. Mas é um jeito bem interessante de barrar certos ódios naturalizados e mostrar que não, isso não é normal.

Já nas redes sociais a gente precisa matar o hater pela inanição. Sim! Um hater é alimentado nas redes sociais por publicidade. Quanto mais gente dá atenção ao infeliz, mais publicidade ele tem. Se alguém se digna a ofender as pessoas atrás de um computador, é porque essa pessoa realmente precisa de algum tipo de proteção, mas mais ainda, precisa de atenção. E a gente é muito trouxa quando os responde. O que aconteceria com o moço do “almoço” se ninguém o respondesse? Se ninguém tomasse conhecimento que ele foi lá fazer aquele comentário? Será que ele não iria juntar suas trouxas e se retirar?

Tenho notado esse comportamento por aqui. Desenvolvi uma pesquisa sobre a comunicação da Women´s March no nível nacional e local. Queria comparar que tipo de forças juntaram tantas mulheres em tão pouco espaço de tempo. Queria saber como a comunicação foi coordenada para manter tudo mundo na mesma página. E, claro, precisei ler muitas postagens.

A minha percepção é enviesada e talvez não seja um exemplar do que é o todo, mas notei que os haters, quando aparecem, não são respondidos. Há questionamentos sérios em relação à conduta política das líderes da marcha, interessantes contrapontos, mas esses comentários idiotas, só para causar mesmo, não são respondidos em massa. Uma ou outra pessoa diz algo, mas não há um debate infantil do tipo: “é, não é, é, não é”. Pessoal simplesmente não responde. E daí a pessoa some. Porque não tem eco.

Ontem eu estava publicando em um grupo de ajudas, vendas e trocas locais, li alguns posts e notei de novo. Um deles era de uma senhora procurando um encanador, explicando que são alguns vazamentos na casa dela, mas menores, que os encanadores em geral negam esse tipo de serviço pequeno e que ela gostaria de saber quem poderia fazer o conserto. Na postagem muita gente foi dando indicações do marido, do vizinho (a comunidade é pequena aqui), de um encanador gente boa, etc. E teve um infeliz que respondeu: “você”. Cara, minha alma latina com sangue de Áries me chacoalhou inteira. Que tipo de gente estúpida o suficiente, lê um post de alguém PEDINDO AJUDA e diz: resolva você mesmo. Sério. É de cair o queixo. Minha vontade era dar um hadouken na pessoa pra ver se ela acorda. Imagina só: eu, que não tinha nada a ver com o post, estava naquele nervo. Perdendo energia porque um idiota resolveu ser idiota. E as pessoas do post? Solenemente ignorando o infeliz. Simples. Ninguém respondeu, nem a dona do post. Nada. Nem um curtir. Nem nada de nada. Simples. Foram direto para a solução do problema e pronto.

Eu sei que para nós, latinos, é complicado deixar barato. Entendi isso pela minha reação. Mas por outro lado aprendi uma gigantesca lição: não se recompensa mau comportamento com atenção nas redes sociais. É uma boa saída para matar o ódio sufocado mesmo. Ele definha, encolhe sem o auê, sem a atenção geral.
Eu prometi, então, tentar como uma galera tem tentado firmemente: não ceder às tretas.

Começo na próxima segunda-feira.

4 Comentários:

Blogger Dorotéia Sant'Anna disse...

Aprendi na marra. Não publicizo merda, não respondo e se for comentário em post meu, me dou o direito de deletar ou ignorar. Mas sim, o sangue latino ferve!

15.3.17  
Blogger Dna. Bona disse...

Comecemos na segunda, mana. ;)

15.3.17  
Blogger Unknown disse...

Oxente... aprendi isso no primeiro ano de psicologia: ignorar. Vejam: o rato fica sem água e aprende o que fazer para ganhar uma gota. Reflexo Pavlov. Todo mundo aqui já ouviu falar... O Ser humano é igual. Não quer que ele repita o comportamento errado, ignore-o. O moço pode chamar a atenção do pai chegando à Pres. dos Estados Unidos ou pode se transformar no estrangulador de Boston. Os dois vão chegar na frente dos pais e solenemente anunciar: "Viu onde cheguei pai?" ... mais ou menos isso.
Eu ... levo esse tema com mais humor do que a maioria. Comm certeza porque fui criada com irmão mais velho e a casa cheia de homens a vida inteira. Meu pai era o menos machista de todos. Eu ria junto com eles das grandes bobagens que as mulheres queriam e fingiam que não queriam... e ria também das besteiras que eles diziam e faziam. Ás vezes sabiam o qto estavam sendo estupidos. Meu irmão me ensinou a dirigir "como homem" - o que significava arrancar quando o sinaleiro ficava verde, cantando pneu e deixando marca no chão. Mas me recusei a aprender a dar cavalo de pau! kkkk....
Então, não gosto e nem uso a palavra ódio. O sentido está politizado. E também acho que as mulheres estão ficando muito chatas. Mal humoradas. Normalmente, qdo os remedinhos estão fazendo efeito, tenho bom humor. E pra mim é extremamente fácil lidar com essas situações. Homem é um universo que conheço muito bem. Por escrito... nada mesmo. Até os algorítimos sabem disso! Por aqui tudo é retroalimentador. E se for na minha, também deleto. Gosto de uma amiga que pra tudo do tipo ela escreve "caguei"!... Mas não se pode dar voz... nem cagando... Bjs.

19.3.17  
Blogger Unknown disse...

Pro...publicizo?....
Vou morar em Mata de São João.
Ou Paris...kkkk....

19.3.17  

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