À minha frente, gerúndio
Está bem
difícil de manter a concentração nesses últimos... ãh... meses? Sim, meses. Não
perdi o jeito de estar em movimento sempre, de ir-indo, continuar-ando, ocupar-me,
fazer-endo, sempre no gerúndio. Mas é bem clara a minha falta de foco. Como ter foco
se nem sei quem sou mais?
Não, isso
não é uma crise. Não, não estou chorando e nem vou cortar o pulsos. Parece que
toda vez que dizemos que não sabemos quem somos o mundo vai ruir ao nosso redor
e todo mundo corre para acudir. Como assim você não sabe mais quem é????
É só se
perdendo assim que a gente percebe o quanto os vínculos formais são importantes
nessa nossa sociedade. Toda santa vez que tenho que preencher qualquer coisa como
pesquisadora me pedem a instituição da qual faço parte. Num faço parte e faço
parte ao mesmo tempo. Eu não tenho uma instituição para chamar de minha agora,
mas ao mesmo tempo posso emprestar vínculos aqui e ali, o que na verdade não
seriam vínculos. Sinto que minto. Mas o formulário não abre espaço para eu
explicar essas coisas. Várias instâncias não abrem espaço para a gente explicar
a complexidade que é só ser.
O currículo
na internet não deixa a gente colocar lá: “fazendo outras coisas que não
possuem ligação com a profissão mas me transformam numa pessoa melhor”.
Ao mesmo
tempo ando tão ocupada. Tão descobrindo vários mundos. É como se estivesse em
frente à uma encruzilhada e houvesse vários caminhos me chamando, todos tão
sedutores. E é ruim saber que entrar em uma das estradas significa dizer não
para as outras. Todas são lindas! Acho que nos últimos meses peguei um banquinho e sentei na
encruzilhada. Flerto com todas as estradas. Aceno. Sorrio. Converso com quem
passa, mas não sigo. Fico ali.
E saindo
dessa metáfora me encontro, na realidade, frente a diversos mundos. Meus livros
finalmente chegaram. Que difícil terminar de revisar esse texto no computador porque
agora eles estão todos à minha frente, sussurando como várias sereias sedutoras:
me leia... Tenha ideias comigo... Folheie minhas páginas...
Meu cantinho quase todo arrumado, com as sereias cantando... |
Um amigo me
perguntou ontem se estou feliz. Bah, que difícil responder. Mas afinal a que
padrão de felicidade ele se refere?
Estou onde escolhi estar. Descobrindo quem
somos nós todas. Todas as eus aqui dentro. Ele foi colo: "sei como é. Aproveite, é um
momento único".
Não ter
certeza faz um bem danado, ao mesmo tempo desencaixa a gente do mundo ali fora
e nos convida a diversos outros mundos criados ou construídos na imaginação. E
aí a gente vai continuando nesse gerúndio, porque parar é pra quem está morto.
Não é?
1 Comentários:
"Várias instâncias não abrem espaço para a gente explicar a complexidade que é só ser."
Nossa!
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