quinta-feira, 24 de setembro de 2015

A difícil arte de soltar o galho



Um alpinista estava subindo a montanha. Estava sozinho e muito frio. Foi escurecendo e tudo ficando mais difícil antes de chegar no acampamento. Em um movimento em falso acabou escorregando e conseguiu se agarrar em um galho de árvore. No escuro, sem companhia o alpinista pediu a Deus para ajudá-lo. E ouviu uma voz: eu ajudo, mas solte desse galho. O alpinista achou que era loucura  fazer aquilo. Não dava para ver nada naquele breu já que a lanterna caiu no escorregão. Pela manhã, o corpo do alpinista foi encontrado congelado, pendurado no galho, a um metro do chão.  


Sou uma pessoa controladora. Já estou bem melhor e me frustro menos quando as pessoas não fazem o que eu quero que elas façam. Mas adoro controlar os processos e minha vida. Ter certeza é reconfortante e me sinto muito bem confiando no meu taco, em vez de colocar a minha vida nas mãos dos outros, ou de algo.

Pois bem, já entendi que ninguém sai dessa vida do jeito que entrou. E, esse ano, as lições começaram bem cedo. Mais especificamente na virada do ano. Estava eu e meu marido e a nossa cã recebendo um amigo querido da Alemanha que veio passar o Natal e o Ano Novo aqui. Tudo muito lindo e eu controlando a cozinha, os quitutes para nós três e, de certa forma, o convidado, o marido e a pet, porque enquanto cozinhava pedi que fossem ao jardim tomar alguma coisa e brincar e relaxar. Assim eu ficava mais tranqüila fazendo as comidas para a ceia.

Enfim, na hora em que fui tirar o chester do forno – que eu tinha feito com molho de laranja – a forma inclinou-se e o molho escorreu para a minha mão esquerda. Pode parecer mentira, mas eu nunca tinha me queimado antes.

Chorei de dor. O reflexo me fez colocar a mão, correndo, embaixo da água da torneira. E, no mesmo momento, o amigo alemão subiu com a cã que adora lamber tudo no chão. Gritei com ele para ir para a sala com ela e fechar a porta porque eu precisava limpar a bagunça do molho espalhado pelo chão.
O marido veio logo atrás e tomou a frente das coisas. Como alguém que já se queimou várias vezes e tem o know-how, fez um pacote de gelo e entregou para eu ficar segurando com a mão esquerda, que fora da água, ardia horrivelmente.

Eu tinha uma bagunça enorme que queria limpar, um jantar por terminar, e, de repente já não podia fazer as coisas sozinha e do meu jeito. Minha mão ainda queimava. Os dois rapazes me afastaram da cozinha dizendo que era só para eu dar as coordenadas que eles terminariam o jantar.

Como assim? Como seria possível eles fazerem tudo sem mim? Claro que não fariam do jeito certo!!! Claro que não ficaria tão bom já que não estavam usando os meus métodos.

Sentada na sala, com um pacote de gelo na mão esquerda outra coisa queimava. Meu controle. E, tentando ser um pouco esperta, vi ali mais uma lição: deixar as coisas se construírem por si, pelas pessoas, pelos outros, pelo universo. Pelo jeito de outrem. É sofrido, mas não é impossível.  Brindamos juntos a virada do ano. Eu com a mão segurando o gelo como recomendado. No outro dia, depois de ter dormido com o pacote de gelo amarrado na mão, eu tinha somente uma pele um pouco sensível. Nada de bolhas. Minha cozinha estava limpa. Tudo se ajeitou.


Mas eu não sabia que esse era só o começo das lições que eu ia tomar durante o ano. Só o começo. 

1 Comentários:

Blogger Dorotéia Sant'Anna disse...

Mudanças acontecem para nos preparar ao novo ciclo!!!

3.10.15  

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