O artista
Tenho lido sobre Cézanne.
Cézanne tem me pesado à visão - não a dos olhos, porque este
gênio das artes plásticas não encerra este sentido numa forma superficial e
fria – na verdade esta é para ele uma ação complexa elaborada para além da
funcionalidade.
O artista repousa sobre minha cama com toda sua sensibilidade
convertida em papel de fotografia e de biografia gentil. Fico penso: que mais
podia este homem senão reinventar a visão, tão cheio estava de uma percepção à
flor da pele? Sentia na alma, com ela.
Ele busca expandir a ideia falsa de que os olhos veem e isso
é tudo. Não basta que luz entre nos globos oculares, a luz para ele era as
cores que punham intensidade, profundidade e numa palavra, perspectiva à
paisagem natural.
Incansável buscador da natureza, do equilíbrio daquilo que
podia vislumbrar: horas percebendo, sentindo, olhando, estudando até ir para uma
tela branca e converter em imagens as impressões do mundo. Cem olhos de lua, a expressão
atribuída a Nietzsche parece ser executada por Cézanne: mesmo ficando diante de
um objeto com cem olhos de lua, não haveria como vê-lo completamente.
De certa forma Monsieur
Cézanne experimenta extrair das atividades de observação e produção de
impressão os elementos eternos das paisagens, o que é invariável e permanente
na natureza, aquilo que nem o tempo destrói. Tudo é pesado e colorido, mesmo
que às vezes trapaceie com a leveza e faça aquarelas fluidas, todavia a
intensidade sempre ronda a obra. É disciplinado, faz incansáveis estudos de
desenhos, nas suas telas os objetos são definidos pela cor e a luz que emanam
de si próprios.
De difícil convivência, artista singular, enfrentou tantas
críticas e oscilou entre entusiasmo e desânimo. Artista supremo porque insistiu
que a vida não podia ser vista por olhos regrados e a arte não podia se encerrar
nas técnicas conhecidas. Pareceu provocar o mundo ao propor outras formas de
produzir arte: dispensando a obviedade ao experimentar, aprender com sua
rotina, sua intuição e todos os erros e acertos.
Marcadores: Paula Bolzan
1 Comentários:
Uia!!! Divina em momento erudição!!! Mas não posso ler Cézzane não dona Paula, quanto mais deixar ele chegar na minha cama...tenho que lavar, passar, varrer, cozinhar, pra ELA escrever...to assim, simplória...a senhoura entende né não?
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