Balanço
Junto com a proposta de vir estudar aqui em Sevilla vieram comigo diversos planos secundários (diacho, continuam secundários...). Os de sempre. Botar o pé no freio, pensar só em mim pelo menos por um tempo, tentar um outro ritmo e realmente me dedicar a estudar, coisa que sempre fiz aos trancos e barrancos quando gerenciava casa, familiares e trabalho junto.
Sei que “só estudar” é artigo de luxo. E sou grata por conseguir fazer isso aqui, mesmo que não no ritmo que gostaria.
Em casa sempre fui a rainha dos ajuntamentos, das organizações de eventos, sempre pensando em como fazer as coisas e em como organizar todo mundo. Tá, normal, coisa de quem foi mãe cedo. Era no automático o pensar coletivo e nunca me doeu, não. Aqui, vim com o objetivo de ser sozinha (acabo de lembrar de uma música do Oswaldo Montenegro, que traduz um pouco essa melancolia/vontade da solidão que é liiiiiiiinnndaaa: ).
Enfim, busquei aqui essa solidão de crescimento. Nada de ficar macambúzia nem “jururu” como minha mãe dizia, mas era uma coisa de descobrir: como é que fica a vida se eu tiro todo o resto e só sobra eu?
Hoje resolvi fazer balanço.
Fiz mais amizades do que imaginaria ou planejei fazer. Fiz doce de membrillo para os vizinhos e levei a vizinha fazer compras quase fora da cidade porque ela nunca tinha ido (8 anos morando aqui...). Conversei com o padeiro sobre o frio. Conheci e marquei de encontrar uma blogueira brasileira que me ajudou muito antes de eu vir para cá. Fiz amigos na aula de Flamenco. Trouxe chocolate da Bélgica para meus colegas da faculdade. Encontrei um sevillano pelo site da faculdade para treinar o espanhol. Conheci outra brasileira somente entrando em uma loja. Conheci uma outra senhorinha que mora no 22 “sola” e disse que se eu precisar de algo, eu posso ir chamá-la. Cumprimentei pessoas na rua.
Não fui a shopping me jogar em mil presentes, não arrumei a casa pro Natal com mil penduricalhos (tá, comprei um imã de presépio, mas foi só...), não participei de mil confraternizações, não saí me descabelando para fechar mil relatórios neste final de ano.
Mas fiquei mais tempo sozinha do que em toda a minha vida. Fui capaz de passar uma semana inteira em casa estudando porque estava chovendo. Cheguei a ficar mais de 3 dias sem falar.
Mas penso que mesmo sozinha, eu nunca fiquei sozinha. Todos os meus amigos e família estavam comigo. Sempre. Por isso que nunca me senti sozinha, de doer. Finalmente aprendi que as pessoas a gente leva dentro. E que em vez de ficar doendo pelo que falta, é importante ver o que está a nossa frente, no agora.
Então, hoje fez sol depois de uma semana de neblina e garoa. E bem igualzinho pobre esfomeado quando ganha doce, ou como passarinho quando finalmente chega a primavera fui saudar o astro rei.
Típica guria de prédio (a expressão do meu estado é “piá de prédio”), eu vejo hoje que o jardim, o quintal, o lá fora, é essencial para mim. E foi lá que fiz esse balanço, no terraço que aqui eu tenho. Comendo mimosa (que para vocês deve ser mexerica ou tangerina e aqui é mandarina), e sentindo que sou parte de um todo.
E que todo mundo que eu amo está nesse todo. Nesse mesmo que não acabou ontem.
Marcadores: Dna. Bona em Sevilha
6 Comentários:
Feliz natal para você, Nivea, que conseguiu esse belo balanço mesmo num ano danado como o de 2012. Beijo
Nivea, gostei de saber de suas novidades. estás fazendo aula de dança flamenca?? Eu sou apaixonada, ano passado ensaie duro a Sevillana mas tive que abandonar as aulas por conta do trabalho. "Sevilla tiene una cosa que solo tiene en Sevilla"... ótimo fim de ano p vc.
Que lindo, Nívea!! Tantas percepções que antes estavam silenciadas pelo burburinho. Adorei, bom estudo!!! Feliz 2013.
Amadas!!! Obrigada! Eu desejo que possamos navegar todas em um mar um pouco mais tranquilo nesse ano que vem.
Sim, Tassia, estou fazendo dança flamenca aqui. Na verdade, estou me ferrando nessas aulas e tentando aceitar minha enorme ignorância em alguns ambientes.
Por favor, volte às aulas, mulher. Não deixe o trabalho tomar conta de tudo.
E a música "tiene toda la razón... Sevilla tiene esa cosa y solo aqui se puede sentir."
Beijo grande mulheres!
Esta sevilhana dançarina aqui no site está demais, Amelia!!!
Pois é, a Amélia tá toda, toda, nesse início de ano. Muito obrigada!!!
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