Notícias do frio
Patrícia chamou no msn agora à noite, às 22:30. Recebera um telefonema pedindo ajuda para Lara* uma das adolescentes que encontramos nas ruas e uma das nossas fontes e personagem durante reportagem sobre a prostituição de crianças e adolescentes.
Lara foi internada no Hospital Universitário com dependência de crack. Será levada para Porto Alegre amanhã pela manhã.
A irmã, angustiada, conta que a menina vendeu todas as roupas para comprar droga. Hoje pediu socorro e foi levada ao HUSM com uma blusa de lã e um chinelo de dedo da irmã para não ficar descalça. O termômetro aqui marca 4º.
A internet funciona para acionar uma rede mínimamente fraterna - chamo a Fran que rapidamente se agiliza e em uma hora recolhemos roupas e sapato. Quase meia-noite quando Patrícia passou aqui para pegar a última leva. Uma hora depois me ligou e disse que Lara está incomunicável e dorme, sedada. Ia avisar a irmã que as roupas foram deixadas no hospital.
Quando a conhecemosm Lara tinha 17 anos. Era uma das muitas meninas cujos destinos são a beira das estradas,as boléias de caminhão ou as ruas desde muito cedo. Ela começou aos 13.
Há dois anos perdemos o contato com elas. Há muitos outros anos, a sociedade vem desfazendo o vínculo com os mais frágeis socialmente.
Nessa semana, o ministro Arnaldo Esteves Lima do Supremo Tribunal da Justiça, relator do processo que negou a condenação de dois homens que pagaram para fazer sexo com duas meninas, à época com 12 e 13 anos, no Mato Grosso do Sul, manteve a decisão, alegando que ser "cliente ocasional" e pagar o sexo não constitui existência de crime. E que a prostituição é a mais antiga das profissões.
Condenou sim às meninas... as de lá, as de cá, as do Brasil. É a condenação da infância e do nosso futuro. Impossível esquecer os depoimentos dados. Impossível esquecer a sentimento de abandono das crianças levadas aos tribunais e serem tratadas como adultos criminosos. Impossível calar diante do abuso, do cinismo! Impossível não fazer nada!
* Lara foi o nome fictício que usamos à época ao publicarmos a reportagem, visando protegê-las.
Marcadores: Rosana Zucolo
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