A caixa de Pandora
Ela dormiu a tarde inteira. Já estava meio enrolada no sofá
do quarto quando fui tirar uma deliciosa soneca, em meio ao sol do inverno que batia
na cama (torço por mais oportunidades assim!!). Ela, então, se mudou. Esperou
eu me ajeitar e jogou seu corpinho nas minhas pernas até se enrolar. Confesso
que não gosto de coisas ou gentes impedindo meus movimentos livres na cama, mas
o corpinho dela só encostava, e esquentava meus pés. Deixei.
Faz um ano e pouco que ela mora aqui. Nunca tinha tido uma
intenção verdadeira de ter mais um ser pela casa, mas hoje eu não consigo
pensar na minha vida sem ela. Isso, de vez em quando, machuca porque sinto
saudades. E mesmo ela sendo calma, muito calma, não é para todo lugar que posso
levá-la. Toda vez que saio para o
trabalho lá está ela na janela. Até eu sumir da sua vista ela está lá, me
acompanhando. Corta o coração.
Teve uma vez que ela estava meio doente, na verdade tinha
tomado vacina e era bom ficar observando. Eu tinha marcado de ir ao bar com uma
amiga, perto de casa. Acabei levando-a comigo, porque ia ficar preocupada. O
pessoal foi gente boa, deixou ela ficar na parte que dá para o jardim e ninguém
notou que ela estava ali. Mesmo sendo um bebê brincalhão, ela se comportou bem.
A família está toda surpresa. Minha irmã insiste que eu a
mimo. Minha mãe repete incansalvemente que nunca imaginou me ver a esmagando do
jeito que esmago. Meu pai acha um absurdo eu dar essa importância a ela. Eu,
típica curitibana anti-social, me vi fazendo amizades com vizinhos que não
tinha nem ideia de que existiam, e ainda decorando os nomes dos amiguinhos
dela. Comecei a caminhar, em revezamento com o gringo, pelo menos duas vezes por
dia. Passei a ouvir várias histórias e dicas e preocupações de outras pessoas
no meio dessas caminhadas.
Voltei a sentir
aquele aperto que a gente sente quando tem que botar limite no filho. Quando
precisa ser duro para educar, quando na verdade você quer abraçar e beijar e
esmagar. Tiro fotos dela. Várias. Converso horrores com aquelas orelhas atentas
e posso apostar que ela me entende. Tento acreditar que ela é feliz, mesmo com
os limites que imponho, até porque é calma. Passei a fazer pesquisas no Google para
entender certos comportamentos, questões de saúde e outros. Fiz listas de
alimentos que ela pode e não pode comer e pendurei na cozinha. Tive que me
desculpar por estar usando objetos mastigados – como meu pendrive – mas não me
importei muito. Tive minhas amadas plantas cavadas e retiradas do vaso. Vários
travesseiros “explodiram” aqui em casa espalhando espuma para todo lugar.
Passei a limpar cocô e xixi com a naturalidade que fazia quando o meu filho era
bebê.
É, Pandora abriu uma imensa caixa em mim. Uma caixa dessas
que eu nem sabe que existia.
Marcadores: Dna. Bona
3 Comentários:
Que lindo... E ela tem aquela carinha irresistível de vira-latas! Tomara que tenha te conquistado pra sempre... eu que não entendo como um ser humano pode viver sem um bichinho por perto... Parabéna pra ela - que te quebrou...kkkk....
É assim mesmo...incondicional! Te invadem a vida, os poros e te mostram aquilo que tinhas esquecido em ti mesma. Delícia!!
Adorei!!!!!!
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