Aécio, Dilma e Marina. O ego, a presidência e as galinhas.
Essa campanha política me deixa deprê.
Gosto de
política desde sempre. Nasci em Santos e sou geração pré 64. Para os iniciados
basta. Parentes, vizinhos, professores,
amigos, todos vítimas da ditadura. Faculdade fervendo. No começo dos anos 80 lembro como hoje a
primeira vez que vi no estúdio da TV Aratu, para o mesmo Bom Dia Bahia, Manoel
Castro, prefeito e Loreta Valadares, a comunista. Do lado de Manoel Castro o Tenente Mendes todo
cheio de cordinhas amarelas no uniforme (eu conhecia o Tenente do carnaval de Rua
de Salvador – ficávamos na mesma turma com Saldanha - em frente ao pé de
mulher). E verbalizei alto: “Isso é democracia”. E todos rimos, felizes. Gente educada! Civilizada! Era tempo do excelente Jornal do Brasil –
leitura diária obrigatória e deliciosa. Eu
quero votar pra Presidente demora um pouco mais. Tancredo morre. Instala-se a Constituinte. Eleição direta em 89. Todos os candidatos passaram pelo estúdio da
TV Aratu. Ou no Bom Dia ou no Opinião ou
nos dois. Grandes e excelentes
jornalistas como entrevistadores. Eu só
mediava... Foi um período excepcionalmente
bom. Onde outro Ulisses, outro Mario
Covas? Cadê um Afif com “juntos chegaremos lá” e aquele
bizarro gesto com as mãos? Lula! Lula, no Bom Dia, viu um TP pela
primeira vez... “e eu pensava que eles
decoravam aquilo tudo...” Teve
Collor. Sabemos. Mas foi uma bela campanha! Foi A campanha.
E agora.
Nós, seres
humanos, estamos cada vez mais insuportáveis.
Com egos que não entram nos carros (creio que é por isso que cada vez
mais os carros estão maiores, mais altos, mais potentes e mais caros). “Não há porque eu não fazer o que quero. Quem
manda em mim? Eu sou assim e pronto! Quem quiser gostar é assim” – ouvimos toda
hora. As frases de efeito, de auto-ajuda, trazem
embutido esse conceito de primeiro eu. Textos
tipo “eu já estou na idade de não me incomodar mais com o que os outros pensam”
demonstram no nosso dia a dia o “cagando e andando” tão gostoso com duas pedras
de gelo.
Quem não
roda nessa freqüência vira Geni. Seja
voluntário no Instituto de Cegos ou protetor de animais. Seja quem devolve o troco recebido a mais ou o
doente que não quer furar a fila do transplante. O bom, honesto, ético, é sinônimo de babaca. O malandro, falso, ladrão, é sinônimo de
inteligente. E não há coluna do
meio. Ou você sai para o acostamento
quando a estrada está congestionada ou é o trouxa preso no engarrafamento. E já acostumamos. Já incorporamos esses conceitos.
Aí, começa
uma campanha política para Presidência da República. Não podia dar boa coisa.
Gente da
mais alta qualidade quer por o seu candidato no Palácio do Planalto. E tudo ia de
acordo com o esperado pelas cabeças mais brilhantes do País. Mas... o
imponderável bateu.
E mais do
que num “salve-se quem puder” estamos diante de um “você que se foda”. Aqui se fala muito um provérbio perfeito pra
definir essa ganância: “farinha pouca meu pirão primeiro”. O provérbio é melhor do que a realidade porque
depois do primeiro tem o segundo, o terceiro talvez. Mas nesse mundo do poder não. É tudo meu. Nada pra você. Seja o pirão pouco ou muito EU QUERO TUDO. Nem que tenha que te cortar as mãos pra vc
não comer!
Os
especialistas no assunto gostam de dizer “faz parte do jogo político”.
Tô até aqui desse jogo! Política não é um jogo. É um
trabalho. Uma opção. Um dever que deveria ser encarado como uma honra! E deveria haver concurso pra político! Na democracia o político é um
representante. Funcionário público pago
por quem o elegeu.
E milhões,
MILHÕES de brasileiros vão eleger a criatura que vai ocupar o Palácio do
Planalto.
Que jogue
milho para as galinhas. E se as galinhas não forem tão egoístas como nós, seres
humanos, podem deixar sobrar uns milhozinhos pelo chão...
Marcadores: Denis Rivera
1 Comentários:
Sou pelo fim do voto obrigatório e pela instituição do parlamentarismo.
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