quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Lá vem o Carnaval...


Bom era no meu tempo... a gente sentado nos tamboretes da Praça Castro Alves esperando Caetano subir num trio qualquer pra cantar. Papo de velho. É. Envelheci. Eu, Caetano e mais uma porrada de gente bacana. E por isso o carnaval mudou. Por isso tanto bloco, tanto carro de apoio, tanto camarote.   
Vai lá você, hoje, no bloco... tirando o pé do chão por mais de 5 minutos sem se matar, vai! Vai lá você no bloco se não for em cima do trio tomando  uísque escocês com água de côco, boné na cabeça e bloqueador solar vai...
Vai lá você cantar a Beleza Negra do Ilê  com Daniela na Barra, se não for de dentro do camarote dela espremido entre Joyce e algum artista novato da Globo vai...   

Meus ídolos não morreram de overdose. Envelheceram.
Bell pode fazer o que quiser – e faz – para os filhos, mas não vai rolar aquela pergunta pra Rafa ou Pipo:  “como é que você faz xixi?”. Bell nunca pára de cantar no bloco. Oito horas na avenida três dias, mais 4 horas na Barra 7 dias seguidos sem parar. Quem guenta?
Era um tal de Bell explicar coisas inexplicáveis pra repórter que vou te dizer... e a voz? Aquele timbre? Um calo nas cordas, um sei lá o quê. Quem tinha dinheiro estava dentro dos Internacionais, depois dentro do Camaleão. Quem não tinha, parava em algum ponto da Avenida sete pra ver o Chiclete passar.

Quem tem peito, fôlego, carisma, raça, saúde, (porque o resto tem muito mais hoje do que no meu tempo) pra chegar tocando na Praça as 2 da manhã e ficar até as 6, dar entrevista, voltar a cantar até as 9 e só parar no Campo Grande como Gerônimo?

Porque Ricardo Chaves sempre foi considerado por todo mundo em todos os lugares o melhor puxador de bloco? Porque tinha uma banda espetacular e porque não parava de cantar um segundo no bloco.  Quando deu uma bobeira e a voz balançou no meio do percurso, a backing vocal dele assumiu o comando. Era Daniela Mercury e o bloco só ganhou! (Daniela se esqueceu dessa parte do currículo dela)  
Não é a toa que Ricardo Chaves está fora desse carnaval tão diferente do carnaval do meu tempo e do dele. Não é mais preciso puxador de bloco.

Daniela? Um dia... lá pelos idos do Século passado, voltávamos a pé pra casa Simone Souto Maior e eu. Umas 4 da madruga de uma terça de carnaval. A-CA-BA-DAS! DES-TRU-Í-DAS!  Vínhamos ali pela Graça em direção à Vitória  mudas, ouvindo ainda trio tocando. De repente ouvimos ao som de microfone: “OLHA AS GALINHAS DA ARATU”...  Era Guru – sim, esse Guru da Skin, dos blocos, outro velho agora – as gargalhadas de cima do trio da “Companhia Clic” com Daniela Mercury cantando linda, dançando, cheia de gás como se fosse sábado de carnaval seis da tarde!  Simone e eu só não levantamos pra aplaudir porque já estávamos de pé, mas foi contagiante... e nós duas dançamos e cantamos muito com ela. E quem  está no lugar dela?  Desse jeito, nós sabemos, ninguém.

Morei um tempo na Ladeira da Barra e numa madrugada de carnaval fomos acordadas eu e Didi (Edinete de Oliveira Melo) com Jorge Zárath – então cantor do Crocodilo - que descia a ladeira em direção a Barra com o trio,  e no meio do caminho se botou  gritar “Acorda Denis.... Acorda Didi... “  A gente, morta... e ele... naquele pique irreal!   

Xanddy – maravilhoso – chegou com 18 anos encantando... e com aquela quebrada de quadril de deixar... bom, de deixar todo mundo babar. No último dia de carnaval, Xanddy cantou se apoiando na proteção de ferro do trio pra não cair. Não aguentava nem ficar em pé... que dirá dançar...

Ivete era quase adolescente, magrinha, sequinha, frágil. Botava aquela criança em cima do trio e não tinha pra ninguém... E ela nem era casada com nutricionista. Era só na paixão e no talento mesmo! Dela e da gente.   

Hoje quem, dessa geração jovem, fica lá, em cima do trio, no gogó, sol a pino de verão brasileiro, feliz, falando com todo mundo, reverenciando o carinha João Ninguém que joga água na galera da arquibancada, ou a velhinha que  todo ano fica na mesma janela da Avenida Sete? Sem personal isso ou personal aquilo e um monte de ista grudado como meus ídolos fizeram?

A turma da imprensa também se lembra que organizar a fila de blocos foi super hiper difícil - mas porque todo mundo era importante, todo mundo era Bam Bam Bam... todo mundo era estrela!  A Rede Globo e a Rede Manchete nem se preocupavam com a Bahia, porque fosse a hora que fosse necessário dar flash nacional ao vivo, tinha “estrela” passando na avenida.
A imprensa? Ah... a imprensa  ficava nuns tais praticáveis impraticáveis onde cabia a câmera no tripé e mais 2 ou 3 pessoas. Se precisasse mais gente, ficava pendurado por fora.
Radialista? Fotógrafo?  Tinha que pedir pra subir num daqueles armengues e a gente só podia deixar escondido... porque o patrão proibia mesmo! Até porque, cada vez que a gente espirrava a câmera balançava.  

Todo mundo que sai em bloco sabe que depois do Campo Grande a coisa toda muda, porque é muito punk ter pique pra aguentar uma avenida pela frente. Seja em cima, seja em baixo do trio. Acho que só dos lados mesmo... E foi todo mundo se mudando pra Barra Ondina. Mesmo assim pesa...  a idade pesa... Aí, uma hora parado aqui fazendo homenagem... outra hora parado ali em frente ao camarote de não sei quenzinho... mais hora no próprio camarote... e o carnaval vai... este ano com direito a Chiclete DENTRO de camarote (Wadinho e Bell bem que merecem um arzinho condicionado).  

Quatos anos tem Daniela? Durval? Ivete? Margarete? Sarajane? Ricardo Chaves? Márcia Freire? Tatau?  Serginho da Pimenta? Luiz Caldas? Quem mais... Gerônimo? Carlinhos Brown? Bell?  (Bell eu sei por causa da minha própria idade – por isso em reverência a ele não digo mais quantos anos tenho!) 
E nosso símbolo Caetano? E O mestre Gil?
Pensando bem, todos (nós) merecemos um carnaval com arzinho condicionado. 

Senhoras e Senhores amigos de copo, de suor, de mortalha e gogó, envelhecemos muito bem!
Quem ta chegando que invente um carnaval melhor, porque o nosso foi perfeito!






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2 Comentários:

Blogger Dna. Bona disse...

Que delícia, hein? Fique feliz, De. Eu nunca tive esse pique. Nasci velha. beija

1.2.13  
Blogger Dorotéia Sant'Anna disse...

Não Nivea, é que carnaval em SSA contagia(ou contagiava... não sei dele nos últimos seis anos). Não tem como ficar fora do pique estando por lá. É fenomenologia pura e uma experiência antropológica imperdível. Mas Denis tem razão...envelhecemos todos!

1.2.13  

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