terça-feira, 23 de outubro de 2012

Séculos de machismo...

Antes de mais nada, informo que o texto abaixo é baseado em impressões pessoais. Deixo de lado a tendência intestinal de bancar a jornalista ou ainda a professora investigadora científica e não trarei dados que comprovam a minha opinião. Primeiro, porque eles cansam. Segundo, porque pretendo falar de sentimento. Do que sinto.
Enfim, avisos feitos, informo que estou há 3 semanas vivendo em Sevilla, Espanha. Primeira vez na Espanha, primeira vez na Europa. 38 anos. Sim, viajei para outros lugares e tive relações suficientes com outras culturas para saber que somos diferentes e ponto final.


Mas preconceito vai com a gente para qualquer lugar, não é? E é uma merda a gente ver que tem preconceito. Eu estou tentando expelir o meu por todos os poros desde que notei (tardiamente) que estou cheia dele. Isso aconteceu esse ano (só), no primeiro dia de aula com uma turma de comunicação. Os alunos se apresentaram e na mesma sala um menino disse: ah, profe, moro com o meu namorado. E segundos depois, uma menina disse: sou casada com ela (apontando para outra colega). Sem ter, conscientemente motivo para isso, choquei. Ainda hoje choquei. E fiquei ainda mais chocada com a minha reação de chocada! Mesmo em tempos de Marcha das Vadias, de discutirmos exaustivamente o papel dos gêneros e as liberdades de escolha e opção sexual eu ainda me choquei com as declarações. E fui para casa mal. Mal porque aquilo era normal, e porque diabos eu estava balançada? Desabafei com meus colegas: eu não me imaginava com preconceito ainda... A ponto de achar “diferente” as declarações. E uma colega de equipe disse: Nivea, você não está acostumada que falem, assumam. As pessoas estão começando a falar somente agora... Mas é claro, branca, ariana, hetero e incrustrada em uma família “certinha” eu nunca imaginei, nunca vi que muita gente ao meu redor tinha e ainda tem que esconder quem é para não ser julgado.


Que bosta de mundo, não? Décadas precisam passar para que as liberdades pessoais e individuais se tornem algo natural...


Mas o que me trouxe aqui foi o meu espírito de observação fortemente acionado porque estou vivendo em um lugar diferente. Normal, estarmos com as percepções à flor da pele porque os costumes são diferentes e preciso fazer aqui o exercício da adaptação. Inclusive do que é preconceito. Então você observa, para depois fazer igual.


Nessas observações tenho olhado muito para o terraço comunitário do micro-apartamento que vivo. Tenho uma porta que sai para ele e é ali que as pessoas penduram roupas. É uma cobertura comunitária e eu, que adoro ver um céu sem prédio para tudo quanto é lado, estou a-do-ran-do sair e ficar observando. No fundo acho que sou a pessoa que mais curte o terraço, talvez porque todo mundo está acostumado.Claro que observo também meus vizinhos pendurando roupas, e digo: não vi até hoje uma mulher pendurando roupas. Sério. Nenhuma mulher, só homens. Vão com a cestinha e tals,penduram.


Ontem nas minhas andanças pela cidade caminhei por uma praça onde os pais estavam buscando suas crianças na escola e, normalmente, ficam um tempo ali confraternizando. Um pai estava trocando a fralda da filha no banco da praça. Sozinho, ali.


Todos os dias de manhã, quando vou para a faculdade, há uma movimentação de pais em direção às escolas. Mais homens que mulheres. Homens com carrinho duplo para carregar os dois filhos, homens de bicicleta com a cadeirinha atrás e o filho (uns fofos) com capacete meio dormindo ainda. Pais amorosos.


Não sou um exemplo de beldade, mas também não sou de se jogar fora. E as espanholas são lindas! Sempre maquiadas, montadas. Pois bem, nada de cantadas na rua. Pois sim, eu estou falando sério. E olha que tenho procurado andar ao redor de mulheres bonitas para ver as reações, muitas vezes “pedreiras” dos homens. Fora uns pescoços discretos se movendo para ver melhor, nada!

Uma arquiteta brasileira que mora aqui há anos me contou que a percepção dela é a mesma. Aqui, os homens dividem as tarefas naturalmente e acham normal cuidar dos pequenos. E continuam cavalheiros, abrindo porta (sou prova disso!!). Já essa minha amiga quando vai visitar a família no Brasil se choca com as amigas casadas e com filhos que não podem sair de casa porque o marido foi jogar futebol.


Enfim, nada de mais tudo o que falei, não é? Normal, né? Nada. Está longe desse mecanismo aqui ser normal no meu país.


E o pior de tudo é ver postagens no facebook ainda com aqueles comentários idiotas do tipo: mas o que mais vocês, mulheres, querem? Ou ainda: amigos próximos, que prezo muito, ainda com esse ranço machista, chamando certas mulheres de oferecidas ou espalhando mensagens de cunho misógino.


Gente, ninguém quer ser melhor do que ninguém. Ninguém quer “tirar” lugar de homem nenhum. Ninguém quer guerra dos sexos. A gente só quer apontar o que, a exemplo de eu nunca ter sentindo em relação aos gays por ser hetero, o que os homens nunca sentiram, simplesmente porque nunca estiveram no nosso lugar. É fabuloso não ser vista como um pedaço de carne na rua. É fabuloso dividir tarefas de igual para igual. É fabuloso ser respeitada pelo que eu sou, não por quanto linda posso ser. Simples, não é? Simples, mas a falta disso é invisível ainda.


E aí, caro amigo? Para você está tudo bem? Então que tal trocar a fralda da filha, da sobrinha, ou seja lá quem for em frente aos seus amigos no banco da praça na saída da escola? E aí? O preconceito é só meu de nunca ter visto isso no meu país?
Fica a dica. A Espanha com toda a fama de machista que sempre teve, está a frente até nisso.

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4 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

lEGAL. MEU MARIDÃO QUE DIZ QUE NÃO CURTE OS ESPANHÓIS PELO ESTERIÓTIPO QUE TEMOS DELES NO BRASIL, PARECE ESPANHOL DESDE BERÇO. QUE SORTE QUE EU TENHO. GRASI.

23.10.12  
Anonymous joão\ defreitas disse...

Nívea. Vivi em Paris e em Lisboa, duarante muitos anos. Claro que compreendo o que você diz. Saiba quer há cinquenta anos ou quarenta, a Europa não era assim.Viveu-se uma transião enorme por aí, nos cinco últimos lustros. Quando você der um pulinho no Marrocos, vai ver outra realidade,outracivilização,um contraste incrível, onde a mulher não existe. Se você for à Alemanha,vai ver, ainda, outra realidade, onde até houve um exagêro. Mas assim é a evolução das culturas. Os árabes estão em uma transiççãio que se faz sangrenta, mas,ainda,é por liberdade dos homens. Enfim, os humanos, aos poucos, modificam sua maneira de viver em sociedade. Isto acontece desde Hamurabi.
As culturas evoluem,até onde, ninguém sabe.

23.10.12  
Blogger Dna. Bona disse...

Grasi,avise-o que realmente ele tem mais Espanha na veia do que imagina!

Pois é, prof. Defreitas, mesmo com toda essa globalização e países mais outros menos "civilizados" digo que estou preocupada com o meu país. E me chocou saber que andamos tão atrasados em certas garantias de direitos...

23.10.12  
Blogger Dorotéia Sant'Anna disse...

Acredito que temos esse exemplares por aqui também. Apenas não os vemos reunidos no coletivo. Seria interessante que se tornasse cultura nacional...espero ainda estar lúcida quando e se isto acontecer. bjbj

25.10.12  

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