domingo, 30 de setembro de 2012

Noitelua

É tarde da noite e como muitos por aí à fora, estou trabalhando na frente do computador. Um pouco mais cedo fui buscar uma inspiração, olhar o céu e me certificar da temperatura. Saí na área de serviço e a luz da lua ilumina a paisagem. É noite como antigamente, quando saímos no encalço do passo de quem seguia a nossa frente, sem precisar de lanternas. Noites como essa são boas de caminhar pelo campo.
Vi aquela luz toda e senti o vento azedinho e tive vontade de sair a caminhar. Mas senti falta dos vagalumes, dos grilos e dos sapinhos que dos charcos vigiam os passo dos caminhantes. Tudo é silêncio nesta parte da cidade, tudo deserto de areia seca e árvore nua. Estamos todos ilhados em janelas que não se abrem generosas. ficamos isolados por vidros embaçados. Fico olhando as luzes  vizinhas - somos uma ilha de refugiados, morando em gavetas amontoadas, achando uma benção viver próximo do trabalho, com olhos áridos de tanto fazer o que é preciso ser feito.
Respiro mais fundo e sinto os pulmões se enchendo do ar fino do frio e dou falta das estrelas e de meu corpo ser mais livre numa noite como essa. Escrevo sem parar. Desejo sem descanso a mesma rampa da garagem da casa dos meus avós, aquela em que puxava um tapete depois que o sol se punha e ficava bem quietinha em comunhão com todos os seres noturnos torcendo para que minha mãe me esquecesse ali, sob aquela luz tão linda do céu  e das estrelas todas. Conversas com sapos, corridas atrás do pisca-pisca dos insetinhos que fugiam para o banhado do terreno baldio.Que falta me faz um terreno baldio para ser de novo minha terra de investigação, meu mini mundo geográfico: com depressões, cordilheiras, grandes rios e planaltos. Aquelas plantas todas maiores que nossos corpos adolescentes - nossa amazônia privada. Os gritos histéricos quando víamos cobras!!
Tudo era no coletivo. Tudo era sinfônico. Agora só o dedilhar rompe a noite, as ondas de celulares, a internet, a tv - estamos todos sós. Conjugando a vida no singular, acanhados frente a esse mundo todo avesso. Sós e sós.
Sinto minhas costas gelarem, por um instante, sinto que estou deitada na frente da garagem, estendo a mão: abro e fecho os dedos... Tenho tudo.

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4 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

"ilha de refugiados", você diz, enquanto reclama da solidão. certo. mas qual o gesto concreto para rompê-la? cumprimente o vizinho, diga oi para um estranho, puxe assunto, converse. pode ser que funcione. os amigos sumiram? viajaram? mudaram-se? estão por aí, certeza, à espera de que alguém tome a iniciativa. pois tome a iniciativa, paula bolzan.

paulo paniago

4.10.12  
Anonymous Anônimo disse...

"ilha de refugiados", você diz, enquanto reclama da solidão. certo. mas qual o gesto concreto para rompê-la? cumprimente o vizinho, diga oi para um estranho, puxe assunto, converse. pode ser que funcione. os amigos sumiram? viajaram? mudaram-se? estão por aí, certeza, à espera de que alguém tome a iniciativa. pois tome a iniciativa, paula bolzan.

paulo paniago

4.10.12  
Blogger Dna. Bona disse...

Que lindo mulher!! É bem assim, às vezes a gente sente aquela falta do que foi, do que era e daí descobre que cabe somente a nós deitar no chão de novo, do mesmo jeito e ver as estrelas. O cenário talvez não possa ser o mesmo, mas dentro, vc pode ativar a menininha do passado, não é?

4.10.12  
Blogger Denis disse...

Que coisa deslumbrante! Emocionante! Amei! (vivi do lado de um terreno baldio... e na minha casa tinha "alpendre" com cadeiras de madeira...)

2.11.12  

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