Memórias & Crenças

Se tem uma coisa que surge inesperadamente é a memória. De repente, "do nada", a gente conecta em algum lugar do passado.Outras vezes a conexão vem de ocorrências banais. Ontem lembrei das crenças que envolveram a minha infância no momento em que a Dorotéia deixou cair uma vassoura. Corri para juntá-la e vi ali, nesse movimento, a criança para quem, um dia, alguém disse que "não prestava" deixar vassouras no chão, porque a mãe da gente adoeceria. Passei anos na angústia de policiar as vassouras; e outros tantos para perceber que poderia ser um sapato virado, uma tesoura aberta, um copo esquecido, qualquer coisa que simbolizasse o pavor da perda da mãe.
 Tem gente que não passa por baixo de escada - coisa que nunca me atemorizou. Outros ficam em pânico quando quebram um espelho e veem ali os famosos sete anos de azar. Já quebrei tantos que perdi essa conta. 
Por aqui dizem que não se limpa a casa à noite, pois é jogar fora a "sorte" do ambiente. Há o medo do gato preto; não apontar o dedo para as estrelas, porque cria verrugas na ponta; não misturar melancias e uva...tantas que daria uma bela investigação das suas origens ( da lista de coisas para pós-tese). Nenhuma delas supera o meu horror infantil de ficar sem a mãe.