Ele e El@

Ele disse para ela que a tinha escolhido.

Ela parou de respirar.

Não conseguiu pensar. Nem um fio de ar.

Não o via há um ano. A bem da verdade não fazia bem um ano.

Não entendia porque era escolhida. Não nesses termos, não com todo aquele espaço entre eles, não com toda aquela alegria nos olhos e na voz. Mesmo que não o tenha visto enquanto teclavam, sabia que os olhos dele estavam sorrindo.

E então ela teve pressa e quis ouvir mais e mais.

Ele funcionava devagar, conversava pouco, mas quando dizia, falava tudo bonito. Do mais lindo do humano colhido fresquinho da árvore do coração, do sentimento mais perfumado.

Ela só se afogava com a pressa de saber tudo. Com o diabo da pressa convertido em ansiedade acelerando a necessidade de ouvir e ouvir de novo. Será que ele estava se enganando? Podia ser só uma ventania quente da paixão: daquelas que devasta o peito e deita toda a vontade de viver algo que não seja o corpo e a alma do outro. Daquelas que passam.

Mil perguntas. E a pressa. E o telefone que não tocava. Ela que sempre criticara o mundo cheio das tecnologias e da aceleração, descobria-se um híbrido entre o ontem e o amanhã – só ansiedade.

Ela gostava dele. Gostava das palavras dele. Gostava das palavras escritas em caixa alta. Devorava-as. Talvez na fome de saber e ter certeza do incerto.

Melhor seria se fossem cartas. Teriam elas mais sabor.

Mas se fosse em outro tempo, jamais teria encontrado o traçado dele novamente ou levaria meses até a busca frutificar notícias e achar o partido. Seriam dias sonhando na janela com o caminho das cartas e com a demora. O mundo todo seria demorado e não só ele. O mundo seria todo passado.

Ele era o tempo e ela era o instante a pulsar: onde, onde, onde. Complementares: ele analógico e ela digital.