terça-feira, 10 de julho de 2012

A crueldade da idade

Sempre ouvi muitas pessoas, principalmente mulheres, dizendo que a idade é cruel. Que quando ela chega ou vai chegando, você começa a perceber que seu tempo aqui está se acabando pelos sinais sutis que seu corpo envia. Esses dois últimos anos têm sido determinantes para eu receber essas lições do meu corpo. E ele não tem sido gentil em me avisar.
Primeiro foi óculos para leitura e computador. Ok, em um mês tinha me acostumado com o visual intelectual.
Depois apareceu a artrose no dedão do pé. Sim, artrose também dá lá. Nos dois primeiros meses desse ano eu tive uma dor fdp no dedão e não sabia o que tinha acontecido. Dois médicos e um raio-x depois descubro que tenho artrose e que dois bicos de papagaio estavam nascendo nas duas articulações do dedão. A intenção do meu corpo era imobilizar as duas articulações porque eu não as estava tratando bem. Adivinha o que eu fiz para isso? Dancei tango. E não foi demais, nem do jeito errado. Foi até menos do que eu gostaria ou do que muita gente dança. Mas o recado era: suas articulações não são assim tão fortes. Você gastou uma. E dá-lhe parar de dançar, fazer fisioterapia e começar – pela primeira vez na vida – a tomar um remédio/suplemento todos os dias. Depois, no meio do estresse da construção de um texto acadêmico, o mundo começa a girar. E do pior jeito que poderia. Daquele jeito que só tomando um remédio para deitar e dormir e pronto. E isso foi por 6 dias no ápice da necessidade de escrever. Era meu corpo dizendo de novo: que saco, pára um pouco! Incrível que os exames de labirinto, sangue e etc, não acusaram nada. Era cansaço.
Hoje resolvi ir à dermatologista. Eu sempre tive uma manchinha amarela em cima da sobrancelha direita, na testa. Minha mãe (as mães sempre são histéricas e a gente nunca as escuta... e olha que sou uma delas) sempre dizia: use mais protetor solar, vá cuidar dessas manchas. Eu pensava: ela já está ali, vou passar a cuidar agora então. E aí, de um jeito meio displicente eu comecei a usar o protetor solar no rosto. Não cuidando muito nem com marca nem com fator de proteção.
Esses dias, aquela manchinha virou, sozinha, uma ferida. E aí, uma entrevista que eu tinha feito com um oncologista me veio à mente.
Deixe-me contar um pouco dessa entrevista, porque foi uma das lições mais fabulosas que carreguei pra vida inteira. E contei às pessoas ao meu redor, mas nunca ninguém me ouviu direito. Há uns bons 10 ou 15 anos (eu acho) eu fazia uma revista sobre um clube de iate. E com a chegada do verão fui fazer aquelas matérias básicas de cuidados ao sol. O oncologista entrevistado foi mais do que um professor. E hoje eu entendo porque ele se dedicou tanto a me dar detalhes em informações. O resumo da ópera era: não tem sol hoje que seja saudável para a pele da gente. O conselho dele era ostensivo: não vá para o sol. Aí eu perguntei sobre a sintetização da vitamina D (que precisa do sol para se fixar no nosso organismo). E ele respondeu: só os 5 minutos que você saiu do seu carro para entrar aqui são suficientes para você sintetizar a vitamina. Achei radical. Daí ele me mostrou fotos de metástases (a ferida que aparece quando a pessoa está em estágio avançado de câncer de pele) no rosto de várias pessoas e eu quase vomitei. Era muito feio tudo aquilo. A segunda informação que eu guardei foi que 70% dos cânceres de pele aparecem na testa, porque é o lugar que a gente menos pensa em proteger e que nunca está coberto. O segundo é o rosto em geral e o terceiro, as mãos. Tem lógica. Ele ainda disse que nosso corpo guarda as “feridas” da exposição do sol, desde quando a gente é bem pequeno, de maneira residual. Isso significa que não adianta se matar de tomar sol quando se é jovem e depois querer recuperar o tempo perdido na pele. Já foi, ela já está marcada e vai dar sinais dessa agressão lá na frente, quando a gente chega perto dos 40 e depois disso.
Depois dessa entrevista eu virei a militante do partido das branquelas. Já não era muito afeita a ficar torrando no sol, muito menos de querer ficar bronzeada (até porque isso é impossível para mim), mas acabei ficando ainda mais radical. Mesmo assim, ainda meio negligente quanto ao protetor solar diariamente.
Por causa de toda essa informação – que eu nem pude publicar porque o pessoal da revista disse que isso ia afastar as pessoas da praia - quando minha manchinha virou uma feridinha, pensei comigo: bom ver isso logo. Acabei de voltar da dermatologista e ela confirmou: sim, isso é um começo de câncer de pele. Vamos tratar. E achou mais umas 5 manchinhas no meu rosto que eu nunca tinha notado.
Liguei para a minha mãe e assumi para ela que ela sempre teve razão. Escrevo isso também para que quem leia, principalmente meus amigos e familiares que amo tanto, para que parem com essa estória de ficar se assando no sol e que deem um pulinho no dermatologista para olhar as manchinhas da pele. Já.
Melhor se cuidar. Porque, no fundo, não é a idade que é cruel com a gente. Nós é que somos cruéis com o nosso corpo.

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7 Comentários:

Anonymous William Bittar disse...

Nívea, que honra poder ler isto. Show de bola. Parabéns!

10.7.12  
Anonymous Kassia Pichelli disse...

Adorei o texto! Pena que a gente realmente precise de sustos para dar ouvidos às implicâncias de nossas mães(corretas em 99% dos casos).
Beijo enorme e se cuide!

10.7.12  
Anonymous Rosana disse...

Eis um divino retorno. Belo e intenso texto. Amiga, se cuide.Em período de doutorado dá de tudo. Até vontade de fugir!E como a gente não foge da gente mesmo, uau!

10.7.12  
Blogger Paula Bolzan disse...

Belo texto, Nívea! que bom ler tuas palavras! Fique bem! bjos

10.7.12  
Anonymous Tássia Novaes disse...

Gostei do texto... pertinente. E aproveito pra dizer também que estava com saudades de vocês. Beijos nas divinas.

11.7.12  
Blogger Dorotéia Sant'Anna disse...

Este comentário foi removido pelo autor.

11.7.12  
Anonymous Doroteia disse...

Estamos retornando? Dona Nívea, a senhora tem um raio poderoso!!!

11.7.12  

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