A crueldade da idade
Sempre ouvi muitas pessoas, principalmente mulheres, dizendo que a idade é cruel. Que quando ela chega ou vai chegando, você começa a perceber que seu tempo aqui está se acabando pelos sinais sutis que seu corpo envia. Esses dois últimos anos têm sido determinantes para eu receber essas lições do meu corpo. E ele não tem sido gentil em me avisar.Primeiro foi óculos para leitura e computador. Ok, em um mês tinha me acostumado com o visual intelectual. Depois apareceu a artrose no dedão do pé. Sim, artrose também dá lá. Nos dois primeiros meses desse ano eu tive uma dor fdp no dedão e não sabia o que tinha acontecido. Dois médicos e um raio-x depois descubro que tenho artrose e que dois bicos de papagaio estavam nascendo nas duas articulações do dedão. A intenção do meu corpo era imobilizar as duas articulações porque eu não as estava tratando bem. Adivinha o que eu fiz para isso? Dancei tango. E não foi demais, nem do jeito errado. Foi até menos do que eu gostaria ou do que muita gente dança. Mas o recado era: suas articulações não são assim tão fortes. Você gastou uma. E dá-lhe parar de dançar, fazer fisioterapia e começar – pela primeira vez na vida – a tomar um remédio/suplemento todos os dias.
Depois, no meio do estresse da construção de um texto acadêmico, o mundo começa a girar. E do pior jeito que poderia. Daquele jeito que só tomando um remédio para deitar e dormir e pronto. E isso foi por 6 dias no ápice da necessidade de escrever. Era meu corpo dizendo de novo: que saco, pára um pouco! Incrível que os exames de labirinto, sangue e etc, não acusaram nada. Era cansaço.Hoje resolvi ir à dermatologista. Eu sempre tive uma manchinha amarela em cima da sobrancelha direita, na testa. Minha mãe (as mães sempre são histéricas e a gente nunca as escuta... e olha que sou uma delas) sempre dizia: use mais protetor solar, vá cuidar dessas manchas. Eu pensava: ela já está ali, vou passar a cuidar agora então. E aí, de um jeito meio displicente eu comecei a usar o protetor solar no rosto. Não cuidando muito nem com marca nem com fator de proteção. Esses dias, aquela manchinha virou, sozinha, uma ferida. E aí, uma entrevista que eu tinha feito com um oncologista me veio à mente.Deixe-me contar um pouco dessa entrevista, porque foi uma das lições mais fabulosas que carreguei pra vida inteira. E contei às pessoas ao meu redor, mas nunca ninguém me ouviu direito. Há uns bons 10 ou 15 anos (eu acho) eu fazia uma revista sobre um clube de iate. E com a chegada do verão fui fazer aquelas matérias básicas de cuidados ao sol. O oncologista entrevistado foi mais do que um professor. E hoje eu entendo porque ele se dedicou tanto a me dar detalhes em informações. O resumo da ópera era: não tem sol hoje que seja saudável para a pele da gente. O conselho dele era ostensivo: não vá para o sol. Aí eu perguntei sobre a sintetização da vitamina D (que precisa do sol para se fixar no nosso organismo). E ele respondeu: só os 5 minutos que você saiu do seu carro para entrar aqui são suficientes para você sintetizar a vitamina. Achei radical. Daí ele me mostrou fotos de metástases (a ferida que aparece quando a pessoa está em estágio avançado de câncer de pele) no rosto de várias pessoas e eu quase vomitei. Era muito feio tudo aquilo. A segunda informação que eu guardei foi que 70% dos cânceres de pele aparecem na testa, porque é o lugar que a gente menos pensa em proteger e que nunca está coberto. O segundo é o rosto em geral e o terceiro, as mãos. Tem lógica. Ele ainda disse que nosso corpo guarda as “feridas” da exposição do sol, desde quando a gente é bem pequeno, de maneira residual. Isso significa que não adianta se matar de tomar sol quando se é jovem e depois querer recuperar o tempo perdido na pele. Já foi, ela já está marcada e vai dar sinais dessa agressão lá na frente, quando a gente chega perto dos 40 e depois disso.Depois dessa entrevista eu virei a militante do partido das branquelas. Já não era muito afeita a ficar torrando no sol, muito menos de querer ficar bronzeada (até porque isso é impossível para mim), mas acabei ficando ainda mais radical. Mesmo assim, ainda meio negligente quanto ao protetor solar diariamente.Por causa de toda essa informação – que eu nem pude publicar porque o pessoal da revista disse que isso ia afastar as pessoas da praia - quando minha manchinha virou uma feridinha, pensei comigo: bom ver isso logo. Acabei de voltar da dermatologista e ela confirmou: sim, isso é um começo de câncer de pele. Vamos tratar. E achou mais umas 5 manchinhas no meu rosto que eu nunca tinha notado. Liguei para a minha mãe e assumi para ela que ela sempre teve razão. Escrevo isso também para que quem leia, principalmente meus amigos e familiares que amo tanto, para que parem com essa estória de ficar se assando no sol e que deem um pulinho no dermatologista para olhar as manchinhas da pele. Já.Melhor se cuidar. Porque, no fundo, não é a idade que é cruel com a gente. Nós é que somos cruéis com o nosso corpo.
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7 Comentários:
Nívea, que honra poder ler isto. Show de bola. Parabéns!
Adorei o texto! Pena que a gente realmente precise de sustos para dar ouvidos às implicâncias de nossas mães(corretas em 99% dos casos).
Beijo enorme e se cuide!
Eis um divino retorno. Belo e intenso texto. Amiga, se cuide.Em período de doutorado dá de tudo. Até vontade de fugir!E como a gente não foge da gente mesmo, uau!
Belo texto, Nívea! que bom ler tuas palavras! Fique bem! bjos
Gostei do texto... pertinente. E aproveito pra dizer também que estava com saudades de vocês. Beijos nas divinas.
Este comentário foi removido pelo autor.
Estamos retornando? Dona Nívea, a senhora tem um raio poderoso!!!
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