Memória e esquecimento
Ivan Izquierdo é uma das maiores autoridades mundiais nos estudos
neurocientíficos sobre a memória. Entre tantas afirmações poéticas e simples – porque
escreve com certa poesia - ele enfatiza a função do esquecimento como uma das mais
necessárias no processo de apreensão da vida. Antes de seguir em frente com a
reflexão sobre seus estudos, permitam-me atribuir a verve poética de Izquierdo
a sua nacionalidade argentina: creio que a coloração emocional promovida pelos
ares que circulam do outro lado do rio Uruguai imprimem à alma algo de
profundamente sentimental. Isso me agrada muitíssimo. Bom, encantamentos à
parte, suas considerações são de grande importância.
Voltando ao autor, ele afirma que nosso cérebro tem como uma das suas habilidades
mais constantes o esquecimento – para que possa manter sempre num ritmo de aprendizagem das vivências.
Todavia, essa faculdade de esquecer tem sido alvo preferencial da agitação contemporânea que é tamanha: avalanches de informações inúteis mescladas com úteis; fantasias infindáveis sobre o futuro que oscilam entre sucesso e fracasso; podem nos levar à estagnação. STOP: o trem e vida param sem aviso! Nosso cérebro fica exaurido de tal forma que já não conseguimos registrar nada. E pressões de todo o tipo não esperam mais a maioridade para atacar em todas as faixas etárias - democraticamente. Andar assoberbado de informações afeta nossa memória, nossa capacidade de aprender, além de estimular alguns comportamentos indesejados. Na época atual, uma pré-adolescente entende bem o significado da palavra ansiedade – anos atrás, minhas colegas de escola e eu não fazíamos a menor idéia do que isso poderia significar. Nosso entendimento não ia além de um friozinho na barriga ou de uma emoção associada a um apaixonamento. Hoje uma garota é capaz de descrever como se sentiu ansiosa numa série de ocasiões distintas associadas a pessoas ou aos objetos – a possibilidade do que serão no futuro implica uma loteria ilusória capaz de mobilizar e adoecer os adolescentes.
Lembrar, esquecer, aprender implica em tempo. Tempo que os prazos ignoram. Tempo que a
obsessão pelo futuro desconhece. Essa tal dimensão que confere humanidade e através da qual logramos descobrir as nossas reais fraquezas para vivermos com o que é inevitável.
Marcadores: Paula Bolzan
1 Comentários:
Ah tá! Agora eu entendo pq não tenho ideia de como foi minha infância e adolescência, pq apaguei a feição de vários colegas e sempre tenho que perguntar quem é fulano qdo me adicionam no facebook... Obrigada!
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