Estação dos 30
Por onde começar: para uns jovem, para outros nem tanto. As articulações estão no lugar, mas o coração já sofreu com algumas revoluções, inundações e secas preocupantes. Um pouco dos encontros e dos desencontros pode ser desfiado e cardado na casa dos trinta. Casa em que tenho estado, não digo residido, porque se trata do tempo: estou, um dia não estarei mais – essa sensação de finitude tão presente aliada a outra: da vivacidade de não ter chegado ainda na metade da vida! Estar nesse tempo traz certa dose de tranqüilidade impossível nos anos anteriores. Descobrimos como nos manter em nossos sapatos e até cabemos, eventualmente, em nossas calças – um cinto ali, um elástico acolá – nada que nos faça querer tão desesperadamente estar em outro lugar.
Acho que é isso, nesse período queremos entender mais quem somos, porque os anos de convivência, de maneira geral, acomodaram a insatisfação sem nome do ser. Agora sou essa que vos fala: bom, que mais tenho a desvendar sobre o que pretensamente sou? Assim como quem não quer nada vamos construindo os caminhos – aprendendo a ser no mundo, com o mundo. Nada tão impossível, dramático, ou infalível. Tudo passa com alguma ansiedade e angústia, mas entendemos que amamos de maneiras diferentes pessoas distintas sem qualificativos (bom ou mau) ou quantitativos (mais ou menos). Amamos enfim, e sofremos com os finais racionalizados e com os fatais.
Muito fiasco, algum êxito, risadas e choros frouxos – quase nenhuma certeza depois das desilusões, dos ‘pitis’ e de descobrir que palavras o vento leva – que as atitudes são mais raras. E tem uma coisa curiosa: o que nos falavam por ditados começa a ficar límpido – se fossem tatuados os riscos de arrependimento seriam poucos. O meu preferido, gaudério da minha terra, na voz do meu avô:
- Larga de ser boba, guria, tá gastando pólvora em chimango?!*
É patroinha Amélia, mais uma com juízo! Sigo pensando, escrevi ontem e ainda não me dei por satisfeita, como aprendi lendo o Manoel de Barros, a palavra simplifica, só dá uma pista sobre o vivido. Capaz de escrever mais uma vez só pra aproveitar o modelito novo!
*chimango= nas tantas peleias no pampa, eram os sujeitos que ficaram ao lado do governo federal, seus rivais eram os maragatos. Gastar pólvora em chimango é fim da picada, investir no que não vale o preço da munição.
Marcadores: Paula Bolzan
3 Comentários:
Ah Dona Paula... a Senhora é muito equilibrada... Tem que enlouquecer antes dos 40!
UIA!!!! Disse tudo Amelinha!!!
Também acho! Desperuca, Paula!
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