938 - O dia em que fiquei paranóica
Se tem ocasião para provar que a mídia nacional espetaculariza e gera sentidos, é esta. Além da cobertura da política, as notícias e reportagens sobre a gripe suína tem movido e promovido a informação e a desinformação. Tudo às raias da paranóia!
Já sabemos "quase tudo" sobre a gripe, os modos de transmissão, as escassas alternativas para evitar o contágio, a necessidade de aumentar a imunidade, as medidas adotadas em diferentes lugares do país, a vacina que só vai entrar no mercado no ano que vêm, as 18 milhões de doses que chegam da França e somente 1 milhão delas vem pronta e vai para a classe médica que está na linha de frente e despencando. Tudo isso martelando todos os dias na telinha, nos jornais, nas rodas de conversas e nas cabeças. É a pauta do dia. Do comentarista à sala de aula.
Os hábitos mudaram. Todo mundo por aqui carrega um tubinho de álcool gel por precaução e limpa as mãos inúmeras vezes ao dia. Máscaras não são usadas, mas por precaução todo mundo tem uma. Chimarrão é coisa que parece ter sumido do coletivo, depois de muito presente em um inverno gelado. O sujeito espirra e todo mundo arregala os olhos; tosse e o povo sai correndo. Se é filho então! Ai meu deus!
Os abraços diminuíram, os beijos também. Pelo jeito,o aperto de mão tá na lista
.Alguém consegue imaginar um brasileiro que não toque o outro?
Dia de sol e me pego dando aula em pleno pátio da faculdade. A pedido dos alunos. Sim, as eles voltaram no dia 10, enquanto a federal vai esperar até setembro para reiniciar as mesmas. Salas cheias de alunos que estava entediados em casa ( como pode???? A gente dando um dedo por uma semana a mais!) Dias frios e as janelas abertas. Se não pega a gripe, pode ser uma pneumonia pela exposição ao gelo. E ali tem as alunas grávidas; há cantinas lotadas, elevadores também. Tem gente subindo sete andares pelas escadas. E os bebedouros foram desligados para evitar possíveis contágios.
Si, divina amiga e colega, hoje foi parar no hospital com suspeita de estar com a própria.Ontem ela tinha um bichinho do aham. Hoje, dores pelo corpo todo, náusea e vômito. Acabou no atendimento da Unimed, com soro, remédios para dor e o bendito Tamiflu. Uma semana de reclusão.
Além da nossa preocupação com ela, ninguém falou mas todo mundo pensou: vem aí o efeito dominó.
A propósito, a divina Carla que habita Buenos Aires, diz que lá tem gripe, mas não tem a paranóia do Brasil. Em todo o canto tem as mesmas formas de prevenção, mas as pessoas respiram mais tranquilidade.
Moral da história: com a mídia ou sem ela, a gripe pode matar da mesma forma.A diferença é que com a mídia, parece que ela pode fazê-lo de forma mais rápida.
Marcadores: Rosana Zucolo
5 Comentários:
déjà vu
Aqui no México, menos de uma semana depois que cheguei, quando estourou a bomba da tal gripe, as reações foram bem parecidas.
TV, rádio no ônibus, cartazes, pressões de todas as partes (o escritório que trabalho foi pressionado a fechar as portas diante de uma multa pesada), máscaras, terror, caos, pessoas trancafiadas em casa! Ufa! Mals tempos aqueles de 3 meses atrás.
Eis que agora eu volto pro Brasil e a cousa continua a mesma!
Mas já tenho mais anticorpos hehe
calmem aí que essa loucura passa logo, logo
Lúcida análise, à altura da autora!
Assim esperamos, Lucas! Assim esperamos! bj e faça boa viagem de retorno!
Como diz Drummond, ser lúcido é uma merda!!!
é. fala sério.
essa semana dei um espirro no avião. todo mundo olhou pra minha cara. até pensei que o senhor do lado ia se jogar da janelinha. fiquei tão constrangida que me senti na obrigação de explicar: "calma, gente. é rinite alérgica. são 5h30 da manhã. esse horário meu nariz estranha a mudança de temperatura". espirro domesticado, foi o único durante o voo.
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial