Tempo...tempo...
Sou de um tempo em que o leiteiro vinha de charrete trazer o leite na porta da casa. O leite, em garrafinhas de vidro transparente, era deixado junto às portas ou vinha nos imensos tarros dos quais era transferido às nossas leiteiras. Saía dali direto para a fogão, ferver. Ninguém se preocupava com a qualidade ou se haviam adicionado água e similares. Aliás, penso que nem se cogitava a hipótese de tal. O crivo da higiene era a análise do estado do caneco de alumínio que o servia.
Sou também de um tempo em que os carros estacionados, as portas das casas e os portões ficavam despreocupadamente abertos, e as janelas não possuíam grades. Câmeras de vigilância? Coisas que nem na ficção do cinema existiam.
No meu tempo, a maioria das ruas eram de chão batido onde se jogava bola e brincava de pega-pega. A bergamota era apanhada e devorada diretamente no pé e os seus galhos sustentavam a molecada gulosa.
No meu tempo, o livro era precioso e a gente lia o que caia na mão.
Nesse meu tempo, a gente pedia benção aos mais velhos da casa antes de dormir, como se a proteção deles significasse uma vigília para que o nosso sono fosse tranquilo. E ao levantar, o café da manhã tinha leite, pão de casa, manteiga e geléia ou mel.
E o mel? A gente buscava na casa do vizinho, o seo Donato, que os tirava das colméias e guardava em grandes panelas de cobre. Os olhos não cansavam de admirar a fusão das cores e texturas do líquido espesso que escorria lenta e aderentemente às conchas também de cobre usadas para servi-lo em vidros a serem pesados nas balanças! (será por isso que adoro as tonalidades do amarelo???) Sempre havia um pedacinho do favo como brinde, o que fazia com que ninguém reclamasse da tarefa de ir buscá-lo.
Sou do tempo em que almoço reunia a família em torno da mesa, seguida da "séstia" obrigatória.
Sou do tempo em que a roupa feminina era feita pela costureira, o alfaiate se encarregava das masculinas e a família tinha a "sua" costureira preferida. Ah...costureira era o popular , os ricos tinham a sua modista.
Televisão eu fui conhecer aos 9 anos e o rádio, ah! Esse me levava de São Paulo, ao Rio de Janeiro, a Montevidéo, a Buenos Aires e a Londres com a BBC em apenas uma girada no dial pelas ondas curtas.
E agora... olha eu aqui, virtual, correndo o planeta num tc.
O mundo mudou e este meu tempo que ficou para trás como traço de memória obsoleta do ponto de vista tecnológico, só faz sentido para a minha geração e as anteriores, parte da história.
E nem se passou tanto tempo assim...
Marcadores: Dorotéia
12 Comentários:
Ô Amélia, juro que no gif esse pendulo balançava!!! Mas óh, não consegui fazer de novo não!
Pronto Dô. Agora balança...
Amélia, você é ótima!!! Depois me ensine como faz. E diga a sua patroa que tô com saudade!
Dorotéia, nem me fale. Estou atrás de pessoas que plantam por subsistência ou hobby algumas frutas no quintal, acredita? :D Está difícil fugir do veneno nas alimentos!
E quanto ao seu texto, não vivenciei todas as etapas, mas a parte do leite lembro bem, pois era menina e morava no interior (na rua de terra batida) e tinha que levar correndo a 'vasilha do leite' para o moço encher pra gente tomar café de noite e de manhã. De vez em quando eu tomava conta da panela esperando o leite ferver.
Tinha também a 'vasilha do refrigerante', que eu tinha que levar na vendinha pro seu Zé encher pro almoço, mas só no domingo. :P
Recordar é viver. Duvido que naquele tempo a fruta passasse do verdo para o podre! Duvido! :) Bjs
Passava não, Aline! Passava não! bjs
Eu sou do tempo do Atari, do Pogobol, do Mini Chiclets Adams e do Cigarrinho de chocolate Pan. Sou do tempo da turma da Xuxa - do Dengue e do Praga :)
Vou ser sincera, não curto muito os anos 80. Foi aí que começou a bagaceira. E ainda teve o Grande Irmão...tsc..tsc
O meu " sou do tempo..." é muito longo! Tão longo que esqueci de muitas coisas. Como se chamava mesmo aquele tafetá do vestido da minha primeira comunhão????
Seria o ORGANDI???
Ô Fófi ...que organdi o quê! Não viu que era um tipo de tafetá? TÔ quase apostando no tafetá "chamalote"... É do teu tempo?
Do meu não...só a primeira comunhão! rsrs
Obrigada,Denis. É "chamalote"mesmo.Mas aposto que a Dorotéia usou saia plissê e conjuntinho de ban-lon.
Usei sim, pq? E conga, e lencinho no pescoço, e calça lee... e ainda tinha um tal de kichute que era um grande produtor de chulé!!!
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