Arrisque se for capaz

Ilustração: Nesk

Quando você desperta de manhã e, automaticamente, bate um mal estar porque tem que ir pro trabalho... aí você tenta se enganar mais um pouquinho, rola prum lado, rola pro outro, prolonga mais cinco minutinhos, até que, finalmente, faz um esforço monstruoso e consegue sair da cama: de mau humor, claro. E vai tomar banho. Debaixo do chuveiro sente satisfação com a ducha que escorre pelo corpo, como se um balde de ânimo acabasse de ser derramado na sua cabeça. Você jura que hoje vai ser melhor. "É só abstrair", pensa. E repete sete vezes pra si mesma. Põe uma roupa bonita. A caminho do trabalho presta atenção nas árvores, fica contente com a previsão do tempo. Ouve um pouco de música, sintoniza nas notícias, retoca o batom e assim que cruza a porta que separa o mundo real (das dificuldades e satisfações) do surreal (das ilusões e deformações), automaticamente, mergulha no desânimo. Bate o ponto, senta na cadeira e ao lado do mouse enxerga uma pilha de problemas. O telefone não dá trégua um instante. Resmunga e pede piedade como quem ajoelha no Muro das Lamentações. Reza para que a terça-feira vire uma gloriosa sexta e no final de semana implora para que a segunda-feira não chegue nunca só pra não ter que ir no trabalho encarar aquele chefe mala. E ele só não é mala, é um baita sem caráter. Ardiloso, picareta, trapaceiro. E ainda por cima é gordo! E asqueroso! Idem a 70% dos colegas. Se pergunta, mais uma vez, que merda tá fazendo ali naquele "antro", onde as pessoas fingem que fazem as coisas certas em prol de um mundo melhor. E ganham dinheiro pra isso porque todo mundo acredita, haja manchete nos jornais! E como se não bastasse... ah, os colegas de trabalho! Fingem ser bonzinhos um com o outro, enquanto passam vaselina pra enfiar um baita problema no seu c*. Reciprocidade intensa: todo mundo se odeia. Até o entregador de pizza nos odeia - não tem campanhia na porta. Se tudo isso acontece com você é hora de...

Viver mais.